JESSÉ SOUZA

Espetacularização de um fato enquanto a população vive sob constantes ameaças

Assembleia Legislativa tem sido o centro das últimas polêmicas na política (Foto: Tiago_Orihuela)

O que já era um espetáculo deprimente conseguiu se tornar ainda pior em se tratando do episódio da troca de cadeiradas entre o ex-deputado Jalser Renier e o deputado delegado Jorge Everton, cena que ocorreu em uma pizzaria em área nobre da cidade. Levaram uma briga de interesses próprios para dentro do Poder Legislativo como se fosse um assunto de extrema importância para toda a sociedade.

O argumento é que o ex-parlamentar passou a representar uma ameaça não só à integridade física do deputado envolvido na briga e do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio, citado como alvo de ameaças, mas também aos trabalhos parlamentares de toda a Casa. É um argumento que não se sustenta à luz da realidade.

Os deputados não são quaisquer parlamentares indefesos. Everton é delegado da Polícia Civil. Sampaio é policial militar. Além da investidura do cargo que lhes dá o direito de ter segurança, eles ainda podem andar armados para que possam se defender. A própria Assembleia Legislativa tem toda estrutura de segurança, inclusive com uma Casa Militar e um serviço de seguranças privados.

O fato é que estão levando ao extremo as ameaças verbais proferidas pelo ex-deputado em vídeos gravados logo após a confusão das cadeiradas, mas até o momento ninguém levou a sério as acusações graves de irregularidades, inclusive incluindo pagamento de propinas e a denúncia mais antiga de prática de “rachadinha”, popularmente conhecida em Roraima como “gafanhotagem”.

Que os deputados envolvidos em ameaças se resolvam entre si, na polícia ou na Justiça. O que o Poder Legislativo precisa, isso sim, é mostrar à população ou cobrar do Executivo ações para enfrentar a criminalidade que avança no Estado, conforme esta Coluna vem comentando constantemente diante do crime organizado, do garimpo ilegal e de outros crimes que se avolumam na Capital e interior.

Quem está desprotegido e aterrorizado diariamente são as famílias que moram nos bairros mais afastados do Centro, as quais não têm condições financeiras para reforçar a segurança de suas residências nem têm a proteção devida do Estado. Ao contrário dos políticos, que, além de contarem com segurança paga com dinheiro do contribuinte, dispõem de condições financeiras para se protegerem da bandidagem.

É um acinte um pedido de prisão contra um ex-deputado alçado como se fosse de alto grau de importância para a sociedade, como se todos estivéssemos sob ameaça, enquanto a dura verdade é que semanalmente alguém é morto a tiros e facadas ou é encontrado um corpo com a cabeça decapitada em via pública; ou diariamente as pessoas têm sua casa e seu comércio invadidos por bandidos nos bairros e nas áreas centrais.

Os parlamentares deveriam se ocupar de assuntos de maior relevância para o bem-estar coletivo, uma vez que as ações parlamentares vêm deixando a desejar. Inclusive há um áudio vazado em que uma parlamentar se queixa: “Esses deputados novos, esse pessoal tá todo doido. E o Sampaio não controla. Cheio de projetos doidos, cheio de projeto sem eira nem beira… Sem noção do próprio papel do Legislativo e do legislador, do que ele pode e do que ele não pode. Estou cansada. É só o que tem na Assembleia”.   

Que os deputados desse triste espetáculo de cadeiradas, vergonha e memes se entendam, que tomem atitudes contra quem os ameaça e até prendam, se a lei assim ampara. Mas que não transformem um problema político e/ou pessoal deles em um assunto como se fosse de interesse coletivo. O Estado de Roraima clama por ações que impeçam o avanço da criminalidade e freiem definitivamente os sérios problemas que realmente colocam a população sob ameaça constante.

*Colunista

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