Coluna Esplanada

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O CHOQUE ÉTICO DAS LEIS DO PODER II – NÃO CONFIE DEMAIS NOS AMIGOS

Amigos, inimigos, colegas, candidatos, todos são seres humanos e, portanto, afeitos a erros e acertos. Dar oportunidade a um deles, não significa um casamento pela eternidade, mas sim um pacto, em que regras pré-estabelecidas devem ser seguidas e obedecidas, quem não se enquadrar não pode ficar, independente do laço sanguíneo ou não. Lembre-se: “As pessoas não lembrarão de você pelo que você é ou tem, você será lembrado pelas pessoas pela forma como você as tratou. Portanto alguns terão boas lembranças, outros péssimas”.  

Dando continuidade à análise do best-seller, As 48 Leis do Poder, de Robert Greene, hoje vamos trabalhar sobre a segunda lei do poder, observando sempre os conflitos éticos que permeiam cada uma delas.

No nosso artigo dessa semana, vamos tratar da lei número 2:

Lei número 1: NÃO CONFIE DEMAIS NOS AMIGOS, APRENDA A USAR OS INIMIGOS – Cautela com os amigos – eles o trairão mais rapidamente, pois são com mais facilidade levados à inveja. Eles também se tornam mimados e tirânicos. Mas contrate um ex-inimigo e ele lhe será mais fiel do que um amigo, porque tem mais a provar. De fato, você tem mais o que temer por parte dos amigos do que dos inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito de tê-los.    

Essa é uma das leis do poder mais intrigante, porque muitos se perguntam como trazer um inimigo para perto ao invés de valorizar o amigo que já está ali do lado há anos e passou por tantas dificuldades juntos, chegando ao ponto de comer o mel e o fel sem distinção e sem correr da responsabilidade? O que ocorre, e é importante salientar, é que precisamos definir nas nossas mentes o que é o amigo e o inimigo na plenitude e o que são apenas colegas com valor útil proporcional a responsabilidade dada. Parece complexo o entendimento e é um pouco. Vamos lá a algumas regras que ajudaram a elucidar essas dúvidas.

Quem nunca ouviu a célebre frase: “Não contrate quem você não pode demitir”? Quando você está ocupando cargos de chefia e tem sobre si a possibilidade de selecionar alguém para uma boa vaga de trabalho ao seu lado, surgem logo grandes dúvidas que são comuns, como por exemplo: Esse bom cargo eu não poderia dar a um familiar que se enquadrasse nos pré-requisitos? A um amigo que passamos anos de faculdade juntos e que tenha habilidades e competência para o cargo? Ou, por que não levar a seleção por um processo de análise curricular que propiciasse uma avaliação por meritocracia e competência? Quando esbarramos na simplicidade da resposta da primeira e segunda opção, não estamos fazendo nada de errado, apenas assumindo o risco de um problema futuro anunciado, ou seja, como demitir alguém que tenha vínculos de proximidade com o gestor – sejam eles familiares ou de amizade – quando tenha que falar (o gestor) mais alto do que o amigo ou familiar? Aí começa a confusão, porque o posicionamento do familiar será de que o gestor valoriza todo mundo, menos alguém que tenha o mesmo sangue. Já o amigo irá transferir para a relação profissional, suas dificuldades de momento (crises financeiras, conjugais, deslizes, entre outras) e acredita piamente no bom coração do amigo gestor. Por esse lado, a segunda lei do poder, pode se explicar parcialmente, porém acredito que um familiar meu ou um amigo que tenha o comportamento acima mencionado, não merece ser enquadrado como amigo, pois seus interesses se sobreporão a tudo, inclusive a preservação do meu cargo de comando. Portanto colocaria em dúvida essa amizade e ao invés de usar o risco da inveja, preferia optar pelo risco da intransigência e da falta de bom senso.   

Quando venho para análise da terceira forma de contratação (análise curricular e meritocracia), não preciso, necessariamente, selecionar um inimigo, pois terei a claridade em minha mente, da citação de Voltaire (1694 a 1778): “Senhor, proteja-me dos meus amigos; que dos meus inimigos, cuido eu”. Não posso perder de vista o meu inimigo, mas não preciso trazê-lo para tão perto, pois o inimigo (dependendo de sua ação), terá comportamentos repetidos que estão ligados diretamente ao seu caráter e a sua personalidade, voltando facilmente a incorrer em erros que virão a prejudicar um projeto como um todo.

Claro que deve borbulhar na cabeça de cada um de vocês a dúvida de quem você deve ajudar. Em primeiro lugar, a ajuda é opcional e deve ser dada por merecimento, mas não combina com o mundo dos negócios. No mundo dos negócios você deve oferecer a chance a ser conquistada por mérito, habilidades e competências e com regras claras bem definidas. Meu pai sempre dizia: “Meu filho nunca deixe ter como base normas e regras a serem cumpridas, de preferência que seja seu livro de cabeceira”.

Agora falando especificamente sobre os inimigos, vou me ater a uma evolução histórica de mercado que um dia se aplicou aos inimigos. Num passado bem recente, concorrentes se degladiavam como grandes inimigos, ao atravessarem ruas para não pisar a mesma calçada. Hoje temos concorrentes conversando sobre a evolução ou involução dos seus segmentos, com apenas um cuidado: “Você toma conta do seu negócio e eu tomo conta do meu”. Em síntese, tenho que saber os movimentos do meu concorrente, mas não preciso chamá-lo para comer um churrasco em minha casa. Política da boa vizinhança salva negócios, o seu e o de muitos outros, a inimizade pura e simples, cega pessoas brilhantes.

No mundo dos negócios o que está escrito é lei, e dito apenas pela boca é boato. Partindo dessa regra é fácil saber com quem trabalhar e se relacionar. No mundo dos negócios, as regras, fora do ambiente organizacional são as atitudes que farão a diferença, e tenha certeza de que independente de amigos ou inimigos a decepação virá, pois faz parte do ser humano a inveja, a mesquinharia, a falta de bom senso e a pior de todas, a falta da cultura de vibrar com as conquistas do próximo. Portanto, antes de classificar as pessoas, saiba que todas são seres humanos, falhos e prontos ao próximo erro. O sucesso da relação estará em aprender a lidar com esses seres, seus defeitos e suas virtudes.

Vou defender sempre que se entendemos o poder como a habilidade de influenciar o mundo e as pessoas que nos cercam, não tem como atribuir nada “maligno” ao poder; só com as pessoas que abusam dele.

Fechando esse nosso segundo artigo sobre as 48 LEIS DO PODER faria apenas uma adaptação na segunda lei, baseada nos argumentos acima apresentados:

NÃO CONFIE DEMAIS NAS PESSOAS, APRENDA A USAR O QUE ELAS TÊM DE MELHOR E ADMINISTRE O QUE ELAS TÊM DE PIOR – Cautela com o ser humano – ele terá o comportamento ligado diretamente a forma como ele foi tratado, como foi criado, lembrado e reconhecido. Inveja, mesquinharia, falta de bom senso são características humanas, aprenda a administrá-las. Os inimigos, como os concorrentes ferrenhos jamais terão interesse no seu sucesso, mas terão como base o seu posicionamento. O sucesso das relações estará em aprender a lidar com esses seres humanos (amigos, inimigos, colegas, candidatos), seus defeitos e suas virtudes. E a falha não é uma opção, é uma característica humana que já vem de fábrica.

Por: Weber Negreiros