AFONSO RODRIGUES

Esqueci-me dele

“Os soluços longos dos violinos de outono ferem-me o coração com monótono langor”. (Voltaire)

Nunca entendi o porquê, dos cabeças-de-camarão terem usado essa pérola do Voltaire, como código e senha, para a invasão da Normandia, já no final da II Guerra Mundial. Mas, tudo bem. Cada um na de cada um. Ainda na década dos cinquentas, eu estava em São Paulo e me correspondia com uma coleguinha, em Natal. E a correspondência, na época, era por carta escrita com caneta. E minha letra, na escrita, era horrorosa. Certo dia mandei, numa carta, esse verso do Voltaire. Dias depois a garota me escreveu perguntando: “O que você quer dizer com “voltarei”? Não pude deixar de rir, pelo mal-entendido da garota, e nunca mais lhe escrevi. Já viu como eu escrevia e escrevo mau?

Mas, não era esse o assunto da nossa conversa de hoje. Estou falando de um cara, de quem já falei por aqui, mas esqueci-me dele na matéria de ontem. Foi também na Ilha Comprida. Foi ali no “Lago dos Dinossauros”. Era tarde e eu vinha da padaria com o pão para o café da tarde. Passando pelo lago, vi um pássaro preto e grande, mexendo na grama. Era final de tarde e o lago estava repleto de garças e outros, nadando prazerosamente e em bando. E foi aí que pisei na bola. Parei e falei para o pássaro preto: “Para de ficar mexendo na grama, boboca. Caia na água e nada com teus colegas”. E, acredite. O pássaro virou-se, abriu as asas e avançou sobre mim. Com o bico enorme ele rasgou a sacola dos pães, virou-se saiu correndo e caiu na água do lago. Fiquei rindo que nem um tolo, segurando a sacola com os braços, para os pães não caírem. Cheguei a casa e entrei rindo que nem um boboca. O pessoal ficou olhando pra mim e eu não expliquei, porque eles não acreditariam. Eles acham que tais coisas só acontecem comigo.

Tenho certeza que isso também acontece com você. Só que você não lhes dá a devida atenção. E acaba se aborrecendo com o animal que acabou de lhe dar uma lição de vida. Quem pode imaginar o porquê de aquele cachorro arrancar o bolso de minha calça e aquele pássaro preto rasgar a sacola dos meus pães? Há tantos exemplos notáveis que os animais nos dão, sobre o seu desenvolvimento para a racionalidade que não percebemos porque nos consideramos racionais. Simples pra dedéu. Vamos prestar mais atenção ao comportamento dos animais, dentro do nível de desenvolvimento de cada um. Que é o que acontece com nós, seres humanos, também em evolução racional. Mas vamos ter cuidado para não pisar na brasa. Cuidado com os exageros. E estou vendo que estamos abrindo os olhos para o problema, mas com certo exagero. Pense nisso.

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