Estamos no limite da insegurança do qual não se pode mais ultrapassar
Jessé Souza*
As cenas macabras de cabeça e ossadas humanas encontradas pela Polícia Militar em uma área no Anel Viário, esta semana, indicam que a violência foi banalizada pela sociedade. Não houve qualquer indignação por parte de ninguém que indicasse algum clamor público. Nem as autoridades comentaram absolutamente nada.
Da Assembleia Legislativa de Roraima, que em outros tempos era a “caixa de ressonância” dos grande debates e questões da sociedade roraimense, partem apenas institucionais na TV que mostram um carimbo de aprovação das ações do Governo de Roraima e um ultrajante cenário de horror entre bate-boca e graves acusações.
Enquanto uma guerrilha urbana está em curso, os deputados ligados à segurança pública e os demais silenciam-se dentro de outra caixa, a caixa-preta dos escândalos que emergem, mas são abafados. E o único barulho que se viu foi em relação a uma suposta ameaça de morte contra um deputado na disputa por uma sigla partidária.
No mesmo momento em que a Assembleia Legislativa tão somente festeja as ações políticas do governo, em um comportamento inaceitável de um poder que existe para fiscalizar o Executivo, não há sequer como disfarçar os fatos, pois os números falam por si só: foram 213 assassinatos em Roraima somente no ano passado.
Se os parlamentares entendem que tudo estaria dentro da normalidade, para a sociedade há uma sensação de impotência e um desalento sem precedentes, pois jovens e adolescentes estão sendo cooptados pelo crime, destruindo e enlutando famílias. Sem contar que existem crianças venezuelanas perambulando pelas ruas, pedindo dinheiro na porta dos comércios.
Por sua vez, o Governo do Estado comenta sobre os números da violência como se o problema não fosse com ele, atribuindo à migração de venezuelanos e à disputa entre facções criminosas, como se os imigrantes e bandidos facicionados fossem obras de ETs. É como se as polícias estaduais existissem apenas para combater crimes de brasileiros e que não sejam integrantes de crime organizado.
Se as autoridades em todos os níveis não pararem com seus jogos vorazes em favor de seus próprios interesses e de seus grupos, em curto espaço de tempo o Estado de Roraima será “privatizado” pelo crime organizado ou não. Não há mais espaço para mentiras e placebos. Estamos no limite do qual o crime não pode mais ultrapassar.
*Colunista