JESSÉ SOUZA

Estiagem à vista, compra de cestas básicas e o caso na fronteira

Corpo de Bombeiros contratou empresa para fornecer cestas básicas para afetados por situações emergenciais e calamidades (Foto: Divulgação)

O Corpo de Bombeiros Militar de Roraima acaba de publicar a homologação do contrato de uma empresa para fornecer cesta básicas a serem distribuídas para famílias afetadas por situações de emergência ou calamidade pública, no valor de R$7,1 milhões, conforme publicação no Diário Oficial de Roraima do dia 30 de outubro. A finalidade é garantir proteção social e segurança alimentar para os afetados por tragédias advindas do fator climático.

Como estamos nos aproximando do período mais crítico do verão roraimense, que sempre é marcado por fortes estiagens, as quais favorecem incêndios florestais e queimadas descontroladas no lavrado roraimense, então é bom que a sociedade fique de olho, pois estamos em um Estado onde cestas básicas se tornaram escândalos eleitorais recentes, além do viés do assistencialismo histórico.

Não só isso. Ainda pairam suspeitas sobre um rumoroso caso de desvio de cestas básicas no Município de Pacaraima, Norte de Roraima, no mês de abril deste ano, alimentos estes enviados pelo Corpo de Bombeiros exclusivamente para famílias indígenas afetadas pela forte estiagem e queimadas no verão passado.

O tema foi tratado por esta Coluna sob o título “O caso das cestas básicas em Pacaraima e o cenário de estiagem que se aproxima”, artigo este publicado no dia 10 de setembro passado, narrando o envolvimento de bombeiros militares lotados naquele município, que fica na fronteira com a Venezuela.

O caso veio à tona depois de documentos enviados à Procuradoria do Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR) e no próprio Comando do Corpo de Bombeiros, encaminhados por lideranças indígenas da Coordenação Regional do Alto São Marcos, que é a organização indígena que defende os interesses das comunidades indígenas daquela região, após discussão das assembleias das lideranças indígenas.

Os ofícios narram que, no dia 22 de abril deste ano, um carro com placa venezuelana chegou à sede de uma associação indígena e foi abastecido com cestas básicas que deveriam ter sido entregues às comunidades indígenas. Nesse veículo estariam a esposa de um oficial bombeiro e uma servidora do primeiro escalão daquela instituição militar. O carro estava escoltado por outro veículo oficial da Defesa Civil Municipal de Pacaraima.  

Os ofícios enviados ao MPF não apenas narram detalhes do episódio como também relatam nomes completos de pessoas envolvidas, inclusive com suas respectivas patentes, além de existência de vídeos. Tratam-se de graves denúncias que precisam ser esclarecidas, uma vez que novamente entramos em período de seca, quando o Corpo de Bombeiros fez nova aquisição de cestas básicas.

Além desse caso específico das cestas básicas em Pacaraima, os órgãos de controle ainda não deram respostas em relação à fiscalização dos recursos federais repassados aos municípios roraimenses em virtude da decretação de situação de calamidade por causa da forte estiagem registrada no fim do ano passado e início de 2024.

Logo, motivos não faltam para se preocupar. Incluindo aí o fato de as autoridades locais, pela primeira vez nos últimos cinco anos, terem chamado a imprensa para anunciar providências em relação à estiagem e as queimadas – e isso depois das tragédias que ocorreram nesse período e montanhas de recursos terem sido direcionadas para alagamentos e a estiagem. Faltam muitas respostas serem dadas sobre tudo isso.

*Colunista

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