Estradas precisam ser tratadas como um serviço essencial e permanente
Jessé Souza*
A próxima administração do Governo de Roraima, seja quem for, precisa ter a questão das estradas e vicinais como um serviço essencial e permanente, não esperando pela ação do inverno ou do agravamento dos problemas recorrentes para que possa agir antecipadamente. Afinal, a maioria desses problemas se repete ou os problemas são alertados por moradores da região, porém ignorados solenemente por seguidos governos.
Não é tarefa de outro mundo criar uma equipe responsável por fazer um levantamento sobre a situação dos pontos críticos das estradas, consultando os municípios, as associações, motoristas e lideranças das comunidades a fim de identificar os problemas, especialmente aqueles que são recorrentes a cada inverno ou aonde o poder público chega apenas com paliativos ou as autoridades nunca chegam.
O que estamos vendo hoje, diante de chuvas rigorosas, é a repetição de problemas antigos que nunca são sanados ou que recebem apenas paliativos em anos eleitorais seguidos de promessas nunca cumpridas, como ocorre com a estrada da Vila Trairão, no Município Amajari, onde políticos de todas as espécies já estiveram lá com promessas nunca cumpridas. Esse é apenas um exemplo, mas é uma situação que ocorre em várias regiões do Estado.
Neste momento, chuvas voltam revelar alagamentos do leito da BR-174, mas essas situações são ignoradas até que um dia as enxurradas arrastam bueiros ou rompam trechos da estrada. Ou buracos que se abrem a cada chuva que não recebem manutenção imediata, permitindo que surjam imensas crateras até que não fique mais resquício de asfalto, situação a que chegou por toda extensão da rodovia do Amazonas até a fronteira com a Venezuela.
Nas estradas estaduais a realidade é ainda pior, pois não existe um trabalho permanente de fiscalização e manutenção, mediante obras de recuperação feitas somente quando trechos ficam intrafegáveis, como ocorreu com a RR-203, situação que continua ocorrendo com a RR-319, além de muitas outras. Muitas vezes, essa manutenção é feita por critério de apadrinhamento político ou quando envolve um grande produtor ou uma autoridade que tem propriedade na região.
Um caso curioso é que, enquanto pequenos produtores estão no atoleiro ou no alagamento por todo o Estado, estradas que dão acesso a garimpos ilegais nos municípios de Mucajaí e Alto Alegre estão bem asfaltadas e com constante manutenção. A RR-325 teve prioridade absoluta com construção de cinco pontes de concreto no formato de via dupla. Essa rodovia é a principal via do garimpo em terras indígenas e recebeu R$9 milhões em obras com prioridade.
Para essa estrada, conhecida como “transgarimpeira”, não houve desculpa das chuvas,
falta de recursos ou de impedimentos por causa de dois anos críticos de pandemia. Houve uma pressa e dedicação jamais vista. Enquanto isso, o Estado todo sofre as duras consequências de um inverno rigoroso, cuja prioridade nunca chega há décadas.
Se a questão de infraestrutura não for tratada como um serviço essencial, uma vez que a trafegabilidade das estradas reflete na economia, sendo responsável por gerar emprego e renda no campo e na cidade, o Estado nunca conseguirá sair do discurso político para ações concretas visando o bem-estar de todos e o desenvolvimento de toda a sociedade. Seguimos como um “Estado do futuro” sem sabermos aonde vamos chegar de fato.
*Colunista