Estradas tornam o Turismo um tormento que é ignorado pelas autoridades
Jessé Souza*
Por uma grande coincidência que a vida proporciona, no mesmo instante em que o governador Antonio Denarium (PP) divulgava em suas redes sociais que recebeu ontem duas empresárias do Turismo, em seu gabinete, para tratar de melhorias que sua administração fizera neste setor, em destaque a recuperação de estradas e vicinais, eu estava fazendo uma viagem de carro de Boa Vista à Serra do Tepequém, no Município do Amajari, Norte do Estado.
Para quem faz esse trajeto obrigatoriamente tem que passar pelo trecho norte da BR-174 e, na altura do Km 100, precisa pegar a RR-203 para chegar à Vila Tepequém (que também é chamada de Vila do Paiva), o único ponto turístico realmente consolidado do Estado. São aproximadamente 200Km de rodovias, metade federal e a outra metade estadual (Atenção, um spoiler: a viagem é um verdadeiro tormento). Anotei cada detalhe das rodovias, serviço este que deveria ser dos fiscais do governo e dos órgãos de controle.
Já faz mais de dois anos que o governo contratou uma empresa para realizar uma obra de recuperação da RR-203, cujo serviço é dividido entre tapa-buraco e reposição de trechos da malha asfáltica, ou seja, não se trata de uma obra de retirada de todo o asfalto para uma nova pavimentação. O serviço inclui ainda a sinalização da estreita pista sem acostamento, que também não consegue ser concluído.
A obra de recuperação da RR-203 é feita a conta-gotas, em uma lentidão inexplicável, a ponto de trechos já recuperados se deteriorarem antes mesmo de a empresa concluir a recuperação de outros pontos da estrada. Neste momento, por exemplo, a obra está completamente paralisada, enquanto a buraqueira que havia sido tapada ter recomeçado em 3 km de percurso, trecho este compreendido entre a entrada da Vila Bom Jesus e a entrada para a Vila Ametista.
Inclusive, em parte deste trecho, os operários haviam cortado o asfalto para nivelar os buracos a fim de iniciar a nova operação tapa-buraco. Como a obra foi largada faz um certo tempo, os locais onde o asfalto foi cortado estão se transformando em imensas crateras que representam riscos para danos nos veículos e de graves acidentes. Se algo não for feito, a tendência é só piorar assim que o inverno começar, nos próximos meses.
A buraqueira também começa a tomar de conta da pista entre a Vila Três Corações até a Vila Brasil, cuja pior situação pode ser vista nas proximidades do entroncamento com a estrada que dá acesso à região do Ereu. São quase 40Km que ainda não receberam qualquer obra de recuperação desde que a empresa foi contratada, a não ser um tapa-buraco com barro nesse trecho perto da entrada do Ereu.
Isso mesmo: a empresa faz paliativos com barro em um remendo porcamente apresentado. E um detalhe importante: o asfalto da rua principal da Vila Tepequém estourou dois meses depois do recapeamento, obrigando a empresa a refazer a obra quase um ano depois. E onde já foi feito recapeamento em outros trechos, o asfalto novo começou a estourar, em uma situação chamada popularmente de “asfalto sonrisal”.
Resumindo, não se sabe quem anda enganando quem: se os assessores estão enganando o governador sobre a situação da RR-203; ou se o governador realmente possa ter conhecimento da realidade e estaria tentando ludibriar a opinião pública. Porque, no Turismo, o governo sequer tem cuidado da estrada de acesso ao principal ponto turístico de Roraima, onde os pequenos empresários e a população que vive da atividade turística são penalizados por falta de estrutura básica.
A recuperação da malha asfáltica da BR-174 tem mais tempo, cuja obra se tornou outro tormento sem fim. Trata-se de outra situação igualmente complicada, cuja obra de recuperação se arrasta por vários anos, fazendo com que a buraqueira avance por cerca de 25Km, em um trecho compreendido entre o Km 556 ao Km 581, na altura da ponte sobre o Rio Uraricoera.
Um verdadeiro tormento para carros de passeio, que precisam dividir uma pista perigosa com caminhões pesados que fazem zigue-zague na pista. Há locais onde os condutores precisam pegar a contramão para não caírem em imensas crateras. Alguns taxistas mais afoitos passam em alta velocidade na contramão na tentativa de reduzir o tempo de viagem, em uma tragédia que parece anunciada.
A questão da BR-174 é um drama que ultrapassa competências e fronteiras. Os turistas que estão vindo de Manaus (AM) para Boa Vista, neste período de férias, relatam que esta rodovia, no trecho chamado de “reserva indígena”, na divisa de Roraima com o Amazonas, ficou intrafegável para veículos pequenos, impedindo que carros de passeios de turistas cheguem a Roraima.
Como se pode notar, tanto quem investe em Turismo quanto os próprios turistas estão comendo o pão que o diabo amassou nas estradas de Roraima, especialmente na BR-174 e na RR-203. Por isso, não dá para engolir essa propaganda governamental que ignora o principal ponto turístico de Roraima, insistindo em uma inverdade insustentável. Parece que só o governo não sabe a real situação dessas estradas.
*Colunista