A professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Roraima (UERR), Juliane Marques de Souza, está estudando plantas fósseis que viveram onde hoje é Roraima cerca de 145 a 100 milhões de anos atrás. Segundo ela, esse é o Cretáceo Inferior. É a época em que os dinossauros dominavam o planeta e em que surgiram os primeiros mamíferos..
“Essas plantas têm nos mostrado como era esse território naquele período. Sabemos, pelas plantas por exemplo, que no Cretáceo Inferior Roraima estava sob um clima árido, com coníferas, gnetaleanas e pteridófitas dominando a paisagem. Esses registros marcam uma paisagem muito diferente da que observamos hoje”, disse a professora.
Nova espécie
Ela disse que em um trabalho recente, que desenvolveu com pesquisadores do Rio Grande do Sul, foi descrita uma nova espécie fóssil que foi chamada de Paraephedra amazonensis dada sua semelhança com as efedras atuais e sua ocorrência na Amazônia.
Este estudo foi fruto da orientação de uma acadêmica, Adriana Trajano, egressa do curso de Ciências Biológicas da UERR, que desenvolveu seu mestrado na Universidade Federal do Ceará e atualmente cursa doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. De acordo com a professora “essa carreira que a acadêmica ( Trajano A. S) está construindo é um exemplo claro de que a ciência pode abrir muitas portas pelo mundo, para jovens de todos os lugares, inclusive os jovens roraimenses.”
Trabalho de pesquisa
Juliane Souza explica que a paleobotânica é um ramo da biologia dentro da paleontologia e que estuda os vegetais fósseis, também denominados fitofósseis, ou seja, os restos mineralizados de plantas que existiram há muitos milhares e milhões de anos, na Terra. “É, de maneira bem simplificada, um coletor de fósseis de plantas”, resume.
“Chamamos de fóssil qualquer resto ou vestígio de organismos que ocuparam nosso planeta Terra no passado e que sua ocorrência ficou registrada nas rochas. Então imaginem que vou atrás de rochas que contenham marcas de folhas, flores, sementes, troncos, raízes desses organismos bem antigos. Quando as encontro trato de coletar, descrever e analisar esse material”, acrescenta.
A bióloga diz que esse tipo de trabalho de pesquisa, descritiva, tende a não ser imediatamente compreendido pelas pessoas. “Muitos se perguntam, para que serve descrever um fóssil? Que tipo de conhecimento relevante esse tipo de trabalho pode trazer?”, pergunta.
E dá a seguinte resposta: “Eu costumo dizer que esse tipo de trabalho exploratório-descritivo se assemelha muito ao trabalho que os naturalistas realizavam centenas de anos antes de nós. Ao adentrar em um novo local, tudo era minuciosamente observado e descrito. Esse registro nos forneceu um amplo conhecimento sobre nossa casa (o planeta Terra) e sobre nossa interação e dependência desta casa.”
O que indica os estudos
A partir daí muitas outras ciências se desenvolveram, fazendo uso desse conhecimento base, descritivo do mundo natural. “Com os estudos paleobotânicos, por exemplo, podemos estabelecer uma cronologia climática do planeta, verificando as mudanças climáticas globais e o impacto destas sobre as espécies. A partir de então podemos ter alguma dimensão do que acontecerá conosco se o aquecimento global persistir”, diz a Doutora em Geociências.
“Podemos também compreender como e quando nossa grande floresta tropical se estabeleceu (a Amazônia) bem como as transformações que sofreu ao longo do tempo até o presente. Essas informações nos dão indícios do que precisa ser feito para conservar esta floresta exuberante. Estes são exemplos das muitas aplicações do conhecimento paleontológico que impactam diretamente nas chances de sobrevivência de nossa espécie”, conclui.
Currículo
Juliane Marques de Souza é bióloga graduada e licenciada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Doutorado em Geociências (Paleobotânica), pela mesma universidade. Realizou estágio pós doutoral da Índia no Birbal Sahni Institute of Palaeosciences.
Ela é pesquisadora em paleontologia (especificamente paleobotânica) e atua também na formação de professores, com ênfase no ensino da paleontologia e dos conteúdos relacionados a geociências na educação básica.
A UERR, onde a professora desenvolve seus trabalhos, foi criada em 2005 por meio de uma lei estadual, a Universidade Estadual de Roraima está presente em cinco Campus: Boa Vista (Reitoria e Boa Vista), Caracaraí, Rorainópolis e São João da Baliza, e possui em seu portfólio 24 cursos de graduação; 15 cursos de pós-graduação, sendo 8 especializações, 4 mestrados e 3 doutorados.