A Câmara Municipal de Caracaraí deu uma resposta esperada em relação ao vereador Valdemar Ferreira Lima Neto, o Pé no Chão, que agrediu a namorada em um bar, conforme imagens de um vídeo gravado no local. Com sete votos favoráveis, a decisão pelo afastamento é a resposta mais sensata para começar a dar exemplo de enfrentamento à violência contra mulher.
Enquanto por lá a população daquele município tem um caso para refletir e as autoridades o papel de agir, a violência contra a mulher continua um grande desafio para toda a sociedade. São preocupantes os dados do relatório “A violência contra mulheres na Amazônia Legal nos últimos cinco anos em comparação com o restante do país”, que diz que 7 em cada 10 vítimas de violência sexual contra mulher na Amazônia Legal têm até 14 anos.
O levantamento feito pelo Instituto Igarapé aponta que as amazônidas são proporcionalmente mais vítimas de assassinatos e de violência sexual do que mulheres de outras regiões do Brasil, inclusive afirma que conflitos socioambientais e presença de facções agravam essa realidade, o que faz com que a Amazônia Legal tenha 30% mais casos de violência sexual do que restante do país. De cada 10 vítimas, sete são meninas de até 14 anos de idade.
Embora em cinco anos (de 2019 a 2023) o homicídio doloso de mulheres tenha registrado queda de 2% na Amazônia Legal, ante 12% no restante do Brasil, a violência não letal (aquelas que não resultam em morte, como física, sexual, psicológica e patrimonial) aumentou 47% na região, contra 12% em outros estados do país.
Os dados apontam ainda que a violência patrimonial contra mulheres cresceu em 62% na região, enquanto no país esse aumento foi de 51%. Em relação à violência psicológica, a Amazônia Legal registrou um salto de 82%, enquanto no restante do país foi de 14%. Os casos de violência política surpreendentemente cresceram 142% nos últimos cinco anos. A violência física aumentou 37%, ante 3% no restante do país.
Para situar o leitor, é preciso esclarecer que a Amazônia Legal é dividida em duas partes: a Amazônia Ocidental, composta pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima; e a Amazônia Oriental, composta pelos estados do Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso. O relatório foi feito a partir do cruzamento de dados de sistemas de saúde e segurança de estados e municípios, bem como de informações de organizações não governamentais, a exemplo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Projeto ACLED.
Já que não temos dados locais atualizados para que seja amplamente divulgados, a fim de orientar políticas públicas, os números divulgados por diferentes instituições estão aí e alertam que é preciso sair dos discursos de gabinete e das propagandas institucionais para encarar a realidade do problema. Já que em Caracaraí saiu uma resposta, que o exemplo seja seguido pelas demais autoridades no Estado, pois até hoje não deram respostas para agressores protegidos pelo sistema.
*Colunista