JESSÉ SOUZA

Exonerações que significam apenas acomodações diante de seguidos escândalos  

PF desencadeou operação que investiga suposto esquema na UERR (Foto: Divulgação)

Precisou chegar a uma situação insustentável para que o governo decidisse pela exoneração da presidente do Instituto de Terras de Roraima (Iteraima), Dilma Costa, e do controlador-geral Regys Freitas, mesmo que esses dois gestores viessem de situações anteriores as quais eram motivos suficientes para não terem sequer indicados para assumir os respectivos cargos.

Dilma Costa havia sido condenada, no ano passado, sob acusação de irregularidades na destinação de lotes de projetos de assentamentos quando ainda era presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), entre 2006 e 2007, com decisão transitada em julgada do Tribunal de Contas da União (TCU) após vistoria naquela autarquia. Nesse caso, ela não poderia mais assumir cargos federais, mas isso não foi impedimento para ter sido galgada ao órgão fundiário estadual.

Ao assumir o Iteraima, que já era alvo de pesadas denúncias de grilagem, a situação de Dilma se complicou ao passar de testemunha a investigada na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Grilagem de Terras, a pedido do presidente da Assembleia Legislativa, Soldado Sampaio, sob acusação de interferir nas investigações, adulterar processos do filho do governador e ainda de outras supostas irregularidades no processo de regularização fundiária. Inclusive, ela foi alvo do Ministério Público de Roraima que propôs uma Ação de Improbidade Administrativa à Justiça.

No caso de Regys Freitas, ele foi nomeado controlador-geral do Estado depois que passou a ser investigado quando reitor da Universidade Estadual de Roraima (UERR), alvo de uma operação da Polícia Federal em 2023 que investiga desvios de verbas, quando foram apreendidos 4 mil euros, 6 mil dólares e mais R$7 mil. Ou seja, não tinha os atributos necessários para ser galgado à Controladoria do Estado.

Ontem o ex-reitor e até então controlador, além de servidores da UERR, foram alvos de nova operação da PF, como desdobramento da ação de 2023, que investiga suposto esquema na UERR que chegaria a R$100 milhões em superfaturamento de serviços e direcionamento de licitações. Desta vez, a PF apreendeu dois carros de luxo, aeronave, jet ski e relógios avaliados em R$ 500 mil. Só aí que ele foi exonerado – e não se sabe se será alçado para outro cargo.

Situação semelhante ocorreu no caso da então secretária estadual de Saúde, Cecília Lorenzone, que em 2024 foi afastada por decisão judicial por suspeita de envolvimento em fraudes para cirurgias ortopédicas, mas retornou ao cargo por decisão do governador. Ela só foi exonerada este ano depois que foi acusada de cobrar propina de empresários, denúncia esta feita também por Soldado Sampaio. No entanto, após exoneração, ela foi galgada para a Secretaria do Governo Digital.

Da mesma forma ocorreu com o então presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Femarh), Glicério Fernandes, que foi nomeado ouvidor-geral do Estado depois de exonerado após denúncia, também feita por Sampaio, por supostas irregularidades em contratos firmados com uma empresa privada para gestão de créditos de carbonos no Baixo Rio Branco, no Sul do Estado, cujo valor chegaria a mais de R$3 bilhões. Bilhões!!!

Não menos diferente é a situação do comandante da Polícia Militar, Miramar Goiano, investigado pela Polícia Federal, junto um de seus filhos policial penal, por suposta venda ilegal de armas e munições, cuja operação foi deflagrada em outubro do ano passado. E isso depois de ser citado no fatídico caso do assassinato de um casal no Município do Cantá, quando surgiu denúncia de irregularidades no Iteraima e grilagem de terras. Até aqui, ele segue intocável.

São fatos de ampla repercussão na imprensa que mostram envolvidos em sérias denúncias que são mudados de cargos no primeiro escalão do governo quando situações chegam a um limite não mais tolerável. O que se espera, agora, é que as denúncias sejam apuradas e responsabilizadas, pois a sociedade não pode seguir conivente a ponto de escândalos chegarem à opinião pública para logo depois tudo seja silenciado, enquanto os envolvidos apenas mudam de cargo, sendo brindados e blindados com novos cargos, em vez de punidos.

*Colunista

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