Não se pode creditar a crescente criminalidade que vem sendo registrada nos últimos meses exclusivamente na conta do fim do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Não se trata de algo recente ou inesperado. Há quase quatro anos, os alertas vinham se repetindo por meio das estatísticas publicadas em nível nacional que apontavam o Estado de Roraima no topo da violência.
O 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 10 de setembro de 2019, cuja estatística se referia ao ano de 2018, apontou uma explosão sem precedentes da violência em Roraima. Foi a primeira vez que um Estado do Norte encabeçava o ranking de assassinatos no país na história das medições de homicídios no Brasil.
Os dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicavam que Roraima terminou o ano de 2018 com 348 crimes violentos letais intencionais, ou 66,6 mortes para cada 100 mil habitantes, enquanto a média nacional foi de 27,5 por 100 mil. Ali havia sido dado o maior dos alertas, que foi solenemente ignorado pelas autoridades roraimenses.
O atual governador Antonio Denarium, que está no segundo mandato, não pode alegar que se tratava de um fenômeno novo, pois as estatísticas indicavam que desde 2011, no governo Anchieta Junior, o Estado de Roraima via a taxa de homicídios crescer, chegando a 410%. A primeira explosão começou a ser registrada em 2016, no governo Suely Campos, quando a taxa mais que dobrou naquele período.
No mesmo governo Suely Campos, entre 2017 e 2018, houve a segunda grande explosão, quando chegou a 65%, enquanto no país havia sido registrada queda de 10,8% na taxa de homicídios. Valendo lembrar que este governo sequer concluiu todo o mandato, com a governadora sendo colocada para fora depois de uma intervenção federal em dezembro de 2018.
Foi exatamente na intervenção federal que Denarium assumiu interinamente o Governo do Estado até tomar posse em janeiro de 2019 para o primeiro mandato eleito pelo voto, quando a terceira explosão da violência foi registrada pelo 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, conforme relatado no início deste artigo.
Naquele ano de 2019 já estavam todos os ingredientes apontados nas análises dos especialistas, como a migração em massa de venezuelanos e a guerra declarada entre facções criminosas pelo controle de tráfico local e internacional de drogas e armas. Embora naquela mesma época se dera o início da explosão do garimpo ilegal na Terra Yanomami, o fato não entrou nas análises.
Então, conforme os números apresentados, a onda crescente da criminalidade vinha sendo registrada desde o governo Anchieta Junior (já falecido), seguiu no governo Suely Campos e continuou crescente no atual governo Denarium.
E nenhuma decisão política para enfrentar a criminalidade foi tomada desde lá, sendo mantidos apenas paliativos e ações midiáticas.
Não se pode aceitar a desculpa de que o fim do garimpo ilegal na Terra Yanomami seja o motivo principal da criminalidade atualmente. A verdade é que sempre houve uma escandalosa omissão das autoridades para enfrentar a crescente violência há mais de uma década, cenário este que continuou na primeira administração do atual governo e que segue nesta segunda administração.
Até aqui, não surgiram perspectivas de uma mudança no cenário da violência, cujos próximos números a serem divulgados com certeza apontarão a quarta explosão da criminalidade no Estado de Roraima, talvez a maior de todos os tempos. Os corpos desovados quase que diariamente e os crimes recorrentes são um indicativo disso.
*Colunista
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