Jessé Souza 19/06/23

Fachada pintada que chama a atenção para a situação da Segurança Pública

Jessé Souza*

Ainda precisa ser bem explicada e bem digerida essa saída do subtenente da Polícia Militar, Roney Cruz, da Divisão de Capturas (Dicap) da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), o qual pediu exoneração do cargo no dia 14 passado. Tal setor é imprescindível para este momento delicado pelo qual passamos em Roraima diante do avanço da criminalidade e a atuação do crime organizado que mostra força e poder.

O que chama a atenção é que, enquanto facções criminosas montam tentáculos e exibem força, inclusive com associação com bandidos venezuelanos,  o sistema prisional exala fraquezas e falhas, uma vez que o diretor demissionário deixou bem claro que pediu exoneração do cargo por não concordar com “condutas administrativas que vêm sendo adotadas com os servidores do sistema prisional, que estão LIMITADAS na busca dos resultados, e não por falta de competência”.

Os fatos explicitam muita preocupação, pois bastou o pedido de exoneração ter sido levado a público para que fossem dadas ordens imediatas para apagar o histórico símbolo da Dicap na fachada do prédio onde funciona a sede daquela divisão. Pior: teria sido emitida uma ordem para desativação do Plantão do sistema que fornecia informações às forças de segurança sobre ficha criminal e outros dados de suspeitos abordados.

Apagar uma fachada pode até dar uma conotação de querer uma renovação, embora não apague uma história, mas desativar todo um serviço integrado de consulta construído lá atrás, só por capricho ou por uma disputa interna, ou seja lá o que for, aí se torna uma situação que faz ligar o alerta vermelho. Não está em jogo apenas uma disputa interna, mas toda uma sistemática que vem dando certo no combate direto a bandidagem.

O serviço desenvolvido por Roney começou com medidas simples, a custo zero para o Estado, mas que alcançou um nível tão importante para todos os órgãos de segurança, devido a sua eficiência e simplicidade, que faz a diferença na Segurança Pública como um todo, e não somente  no sistema prisional. Deu tão certo que a sistemática chamou a atenção de gestores de vários estados da Federação. E chegou até a Diretoria de Inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais, que o convidou a apresentar o programa em um Fórum de Boas Práticas em Inteligência Penitenciária.

Então, depois de 16 anos de um trabalho duro para construir o sistema de consulta Canaimé, aos moldes do que se tornou hoje, a ação de desmonte denunciada a partir da exoneração do diretor da Dicap traz uma grande preocupação que precisa ser exposta à sociedade a fim de chamar a atenção não só do Governo do Estado, mas dos órgãos de controle. Pois não está em jogo não só um legado, mas um importante instrumento de combate ao crime e criminosos.

Ficou muito evidente neste lamentável episódio da exoneração do diretor da Dicap que profissionais qualificados foram atingidos, os quais estão sofrendo perseguições internas no que diz respeito à lotação e a limitações na execução dos trabalhos que eles desempenhavam. E isto foi dito pelo ex-diretor em suas declarações e publicações nas redes sociais quando de seu pedido de exoneração.

Pelo que tem chegando ao conhecimento público, enquanto as autoridades visivelmente perdem a guerra contra o crime organizado, o qual não se cansa de se articular dentro dos presídios e fora deles, os profissionais que deveriam estar sendo incentivados e apoiados são vítimas de perseguições e narrativas que tornaram o ambiente de trabalho em “um verdadeiro campo de batalha”, conforme correspondência recebida por esta Coluna, no fim de semana.

O momento pede toda atenção das autoridades. A segurança da população de Roraima e o bom desempenho das forças policiais e dos seus profissionais não podem ser prejudicados por medidas tomadas ao sabor de uma disputa interna pelo poder em um segundo escalão. Um trabalho reconhecido nacionalmente pela sua eficiência na atuação da Segurança Pública não pode ser tratado como se fosse uma fachada a ser pintada de tinta. É algo muito maior que está em jogo, que é o bem-estar da população que vem sendo acossada pelo crime organizado.  

*Colunista

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