Fala ‘enrolada’ e estereótipos
A lógica para qualquer estrangeiro é que todo brasileiro é corrupto, um velhaco que quer se aproveitar de tudo na base do jeitinho. Esse é o estereótipo criado a partir do que dizem as manchetes de jornais devido à corrupção endêmica na política e pela malandragem usada com turistas que chegam ao país.
Mas a maioria dos que vivem no país não se enquadra dentro dessa visão preconcebida. Já senti isso na pele, quando estive por um período nos Estados Unidos. Por onde passei, em cinco estados, havia sempre um olhar de desconfiança só pela minha cara de latino, a ponto de, em um supermercado em Washington DC, terem colocado duas funcionárias me vigiando, como se eu fosse um ladrão em potencial.
É desta forma que muitos roraimenses estão agindo com os venezuelanos, estereotipando esses estrangeiros por meio do preconceito e xenofobia, tachando qualquer venezuelano como preguiçoso, ladrão e oportunista que chega com muitos direitos e benefícios. As notícias de venezuelanos pegos roubando ou agindo de forma indevida servem para justificar essa visão estereotipada. E os comentários ainda surgem com tom de deboche: “olha o que os coitadinhos estão fazendo”.
Existem, sim, venezuelanos bandidos e malandros, mas não são todos. A maioria chegou fugindo da fome e tenta um recomeço no Brasil, entre eles alguns que caem na criminalidade ou que já eram do crime e apenas estão exercendo suas práticas ilícitas. Da mesma forma que a maioria dos brasileiros é formada por cidadãos do bem, no que pese a criminalidade e a esperteza entranhada no comportamento de muitos no país da corrupção.
A imigração desordenada é um grande problema para o Estado de Roraima, mas não é criminalizando esses estrangeiros que iremos resolver algo. É preciso rigor na fiscalização na fronteira para impedir a entrada de bandidos, além do rigor da lei aos que cometem crimes em solo brasileiro. Porém, não devemos alimentar essa visão de que todo venezuelano é bandido e que toda venezuelana é prostituta. É preciso mais empatia, para se colocar no lugar do outro; e isso vale para qualquer circunstância da vida, seja com estrangeiros ou brasileiros.
O exemplo está aqui: quando é um estrangeiro branco, falando em inglês ou outro idioma que não o espanhol, muitos fazem até mímica no meio da rua para tentar se comunicar e dar informação. Mas quando é um estrangeiro latino, basta a fala “enrolada” para surgirem a discriminação e o desprezo. É nisso no que estamos nos tornando, em vez de aproveitarmos o momento para aprender a falar um novo idioma em um país que vive no meio de muitos países latino-americanos.
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