A bengala da solidão
Cada vez nos conectamos mais e ao mesmo tempo vemos um movimento que aumenta o número dos solitários. Pessoas do lado se comunicando por mensagem e ignorando que a melhor comunicação está no olho no olho e na percepção plena da linguagem corporal do outro. Uma realidade que acende a luz amarela no ser humano, quando por exemplo, vemos o isolamento de pessoas que não tem acesso a essa tecnologia.
Estava esses dias pensando e observando como as redes sociais se tornaram um campo sem regra, sem rumo e onde uma centena de milhares de pessoas escolhem para relatar conquistas, frustrações e até mesmo os momentos mais íntimos como ir ao banheiro.
A tecnologia torna nossas vidas muito mais práticas e é muito bom poder viver em uma época em que a comunicação entre todas as partes do mundo é altamente desenvolvida, e as pessoas que gostamos estão a apenas uma mensagem de distância, mas isso não significa que tenhamos nos reaproximado em matéria de qualidade comunicacional, as vezes parecemos até mais distantes.
Por isso devemos ficar atentos ao risco que o vício na tecnologia, em especial em smartphones, pode oferecer aos relacionamentos das pessoas que já estão a nosso lado.
O celular que com o passar do tempo evoluiu para os smartphones (antes era importante por fazer ligações, hoje, por acaso, faz ligação) conseguiu eliminar nossas horas de lazer, horas sem conversar longamente com os amigos, colegas e até mesmo com desconhecidos. Passamos a nos isolar no mundo estranho, cheio de tecnologia, mas inabitado por seres humanos responsáveis pela sua criação. Um mundo onde cada indivíduo resolveu se isolar e como via de regra, qualquer isolamento leva a descoberta da solidão. Isso mesmo, estamos permitindo que o celular seja o único companheiro da nossa solidão, um problema que vem se escalonando e poucas pessoas estão atentando para a gravidade.
Sabe onde confirmamos essa inversão do papel da tecnologia em nossas mãos? É simples, basta você lembrar que – por exemplo – você foi a palestra de um grande nome nacional e passou a palestra toda pensando no fim. Você estava ansioso por tirar uma foto com o palestrante para que fosse publicada e aguardasse os tão afamados likes. Nesse cenário você confirma que as pessoas estão deixando de viver o momento como um todo para se apegar a necessidade de se autoafirmar. O que ficou evidente nesse caso é que o era importante naquele momento, que é o aprendizado ou as lições que serão dadas, foi substituído pelo fato da necessidade de mostrar para as pessoas que o palestrante é meu amigo e ainda postar a foto ao lado dele com o sorriso das redes: “kkkkk”… Isso tudo (para mim quase nada) na expectativa de que as curtidas me ajudem a me afirmar naquele mundo fictício, numa bolha e esquecendo que o mundo é muito mais do que ficção cientifica, ele é feito de gente para gente e por gente e não por máquinas.
No entanto, apesar de todos os pontos positivos da evolução tecnológica dos celulares, também existe um lado muito negativo. Quando usados em excesso e sem consciência, essas ferramentas acabam se tornando o oposto do que deveriam. Ao invés de nos aproximarem das pessoas que gostamos e que estão longe, elas apenas nos afastam daqueles que já estão ao nosso redor.
Muitos de nós, mesmo sem perceber, estamos perigosamente viciados nos celulares e passamos mais tempo olhando nossas redes sociais do que nos conectando com nossas famílias e amigos, deixamos o olho no olho pra ficar com o olho na tela, deixamos o carinho que poderia ser feito com as mãos no rosto de quem amamos pelo dedo na tela ou no teclado, enfim estamos deixando de viver o mundo real, que sem dúvida alguma é bem mais gosto do que a frieza da tecnologia.
Hoje, o que mais importa no mundo das redes sociais é a quantidade de quem gostou do post (quem curtiu), independente da qualidade de quem curtiu. Além disso, a grande maioria dos posts vem imerso num mundo de futilidade. As pessoas querem virar da noite para o dia, verdadeiros pop star sendo que sua plateia é invisível e não qualificável. Vocês devem estar pensando que sou um revoltado com as redes sociais, mas não é isso. A tecnologia, criada por nós e para nós, não teve a intenção de criar o cenário que hoje existe. O usuário é o responsável pela qualidade do resultado que a ferramenta pode trazer, mas qualidade parece ser o que menos importa atualmente.
Quando utilizada de maneira racional e inteligente a tecnologia agregará muito valor a você, mas quando usada como bengala da solidão, você estará entrando num mundo, onde terá a certeza de que somente a sua voz e opinião serão vistas e ouvidas, já que o celular não tem a capacidade de dialogar e o pior, nem de olhar no seu olho e interagir.
Mas nem tudo são trevas, dias se passam e algo de bom vimos na velocidade da tecnologia. Vejam a velocidade como ficamos sabendo das guerras pelo mundo, a quantidade de menções aos escândalos de corrupção pelos quatro cantos do Brasil, a polarização das eleições e tantos outros assuntos. Mas o que representa a velocidade da tecnologia? Nada, pois ficar sabendo do fato não significa que tenhamos coragem de agir em prol dos que sofreram os danos ou mesmo foram roubados. A única ação efetiva é a que temos quando podemos ficar frente a frente com alguém, na ponta dos nossos dedos quando podemos agir ou no sorriso de uma criança reagindo a uma careta por exemplo. São ações que dependem do nosso movimento como um todo e não apenas de toques em teclados virtuais para dar soluções mirabolantes ou opinar de forma irracional sobre temas no mundo sem lei das redes sociais.
Estamos com o passar do tempo perdendo características fundamentais ao bom relacionamento e a forma mais estratégica de usarmos nossa maior capacidade de pensar, agir e interagir. Estamos cada vez mais frios e achando que o mundo ira melhorar sem a interferência real de líderes natos, por meio de palavras e atitudes.
Agora pergunto a você: vocês viram algum celular, ou redes como facebook, instagram, whatsApp participando de uma reunião para buscar a paz na Ucrânia? Vocês viram alguma mão saindo de dentro de um celular para que ajudasse a recuperar o dinheiro desviado em crimes de corrupção? Vocês viram alguma mensagem nas redes sociais que buscavam minimizar a polarização das eleições em favor da informação verdadeira e instrutiva? Pois é, com tudo isso só ratificamos nossa convicção de que a única coisa que combina com humanidade e solidariedade é o ser humano e esse nunca vai ser copiado pelos que insistem em se acharem Deuses e nos distanciar cada vez mais do verdadeiro Deus e de nós mesmos.
Um prejuízo que está sendo observado é em relação as crianças que hoje têm o celular como grande concorrente da atenção dos pais. Mas como tudo evolui, agora os pais colocaram na mão das crianças essa ferramenta que limita a descoberta e a exploração que elas jamais deveriam ter deixado de lado. A tecnologia deve ser uma aliada e não um limitador da evolução humana.
Por: Weber Negreiros