O CHOQUE ÉTICO DAS LEI DO PODER I – NÃO OFUSQUE O BRILHO DO MESTRE
Os choques éticos existem para testar a capacidade humana de adaptabilidade e ao mesmo tempo de saber se nós como seres humanos sabemos o que é viver em sociedade. As 48 Leis do Poder expõem com clareza esses choques, mas ao mesmo tempo, nos permitem refletir sobre adequações que podemos fazer em cada uma das 48 leis, sem que tiremos a essência da ideia, mas que mantenhamos o foco na competência, na assertividade, no respeito, na sinceridade, na verdade, na empresa como elemento formado por pessoas e principalmente nos resultados alcançados por todos e ratificar que as conquistas nunca são individuais e sim de uma coletividade que trabalhou para tal.
Tirando por base um dos maiores best-sellers da nossa história, As 48 Leis do Poder, de Robert Greene, sem dúvida alguma temos uma belíssima obra de gestão, liderança e empreendorismo, porém com grandes pitadas de maquiavelismo sobre o sucesso ou fracasso no mundo dos negócios. Greene vê sua obra toda pelo prisma do poder, gerando um certo desconforto no que tange a honestidade na adoção das ações em busca do poder. Ele levanta toda e qualquer ação como forma absoluta de busca do poder e que qualquer outro motivo ele considera falso, argumentando que todos aqueles que defendem conceitos como honestidade e igualdade estão apenas encobrindo suas reais intenções. Aí surge o grande conflito ético.
No nosso artigo dessa semana, vamos tratar de algumas leis, uma a uma e que evidenciam esse choque ético, pondo em risco até mesmo o perfil profissional de quem assessora e os resultados ao assessorado. Vamos deixar claro que essa é uma observação trazido das percepções de bons profissionais que questionam as leis, quando elas são tratadas como regra de vida, ou seja, os únicos caminhos sem nenhum tipo de margem para redirecionamento de rumos e respeito ético.
Lei número 1: NÃO OFUSQUE O BRILHO DO MESTRE – Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam confortavelmente superiores. Querendo agradar ou impressionar, não exagere exibindo seus próprios talentos ou poderá conseguir o contrário – inspirar medo e insegurança. Faça com que seus mestres pareçam mais brilhantes do que são na realidade e você alcançará o ápice do poder.
Não podemos ignorar que as pessoas se assustam com a chegada na equipe de profissionais extrovertidos, falantes, que analisam e expõem seus posicionamentos com clareza e as vezes com bastante firmeza. Profissionais que sabem que estão num papel consultivo, abaixo de alguém com maior notoriedade na escala hierárquica, mas consciente que ao ingressar em uma nova estrutura organizacional, seja ela pública ou privada, devem estar prontos para desenvolver um trabalho sério e comprometido com os resultados da organização, resguardando o mestre e a organização ao qual representa.
Esse trabalho muitas vezes não é compreendido, haja vista a cultura já instalada e enraizada junto a equipe. Por exemplo: as organizações mergulhadas em culturas engessadas, dominadas pelo medo tem facilidade em criar pessoas com o discurso pronto de apologia ao mestre, já que qualquer outra forma de condução das relações é tida como um risco ao comando do mestre e pode representar o surgimento imediato de concorrentes e pessoas que querem tirar a tranquilidade do modelo já instalado. Mas é bom lembrar que ambientes dominados pelo medo, tem a capacidade de proliferar pessoas acostumadas com bajulação e ao mesmo tempo sabotadores, pois estas pessoas são suscetíveis a mudanças repentinas de comportamento por se acharem desvalorizadas, enquanto na realidade a única descoberta que é feita sobre seu perfil é a incompetência como única forma de atuação.
Por outro lado, os ambientes tomados pela liberdade de ação, compartilhamento de desafios e resultados, sinceridade, alegria e um clima organizacional favorável a evolução dos negócios constrói bases sólidas para o mestre e garante que os resultados tenham como grande autor uma pessoa, mas que sua construção tenha sido feita por seguidores e admiradores do mestre, gerando uma sinergia que garante a organização um comando respeitado e acima de tudo reconhecido pela competência do seu condutor. Essa é a liderança plena, por habilidades e competências de um mestre inspirador e não ditador.
É importante destacar que é compreensível a preocupação externada na Lei nº 1 do livro, porém as formas de colocação em prática devem ser trabalhadas com muita responsabilidade para que não se criem resultados fictícios e por tabelas “mestres fakes”, pois no mundo dos negócios a velocidade das mudanças e descobertas é muito rápida e pode revelar que um “pseudo grande mestre”, não passe apenas de uma imagem de areia que não resiste a um vento e por outro lado um “mestre sem traços de tirania”, pode ser amado, admirado e seguido pelo simples gesto de fazer dos seus resultados um motivo de comemoração para todos e não apenas para ele.
Claro que o líder máximo da organização não deve ter seu brilho ofuscado ou mesmo concorrentes declarados na estrutura em busca do seu lugar, mas ao radicalizarmos alguns posicionamentos podemos estar criando um time de puxa sacos, cegos as oscilações e cenários de mercado e que ao invés de proteger o mestre, deixarão vulnerável e muitas vezes, o expondo ao ridículo. Por exemplo: o mestre, nesse caso, o líder máximo da organização ao receber frequentes elogios sem crivo ou mesmo sem a capacidade crítica de análise tenderá sua imagem a uma figura com déficit de liderança e cercado de bajuladores. Além desse risco, poderemos cegar o mestre, já que VERDADES deixarão de ser ditas e o mundo de uma “pseudo perfeição” entra em cena e esse mundo passa a ser defendido como algo que exista e esquecem que tudo está sujeito a melhorias e a evolução em favor dos projetos futuros. Nesse caos essa organização ruirá por não conseguir se sustentar, pois suas bases foram construídas em cima de mentiras e bajulações.
Os profissionais com perfil mais técnico têm uma dificuldade muito grande a aceitar essa lei do poder como regra, pois acabam se desmotivando e deixam de adotar o comportamento proativo e de defesa da figura do mestre, deixam em segundo plano os alertas importantes
, deixam de falar e por tabela, as verdades somem – verdades essas normalmente não aceitas pela maioria da equipe – e a blindagem do mestre deixa de existir, dando lugar a negligência. Em sínteses ele deixa os cuidados com a imagem do mestre e de toda a estrutura que está sob sua responsabilidade. Os profissionais comprometidos têm o perfil de escudos do mestre, mas para o time de “puxa sacos” representam um risco, que no fundo não é para o mestre e sim para os bajuladores de plantão que insistem com as mentiras, os discursos de conveniência e falta de profissionalismo, pois sem isso a sua inutilidade vem à tona e o mestre pode descobrir (aliás o mestre de verdade percebe esse perfil com facilidade).
Pelo lado do mestre sempre deve existir a preocupação de ter profissionais o assessorando de forma eficiente e eficaz, mostrando tudo o que ocorre no seu entorno, ameaças, oportunidades, inverdades e tudo que possa pôr em risco a supremacia da gestão. Do lado do assessor, a fidelidade aos princípios na ética, respeito e comprometimento com os resultados da organização e que os fatos sempre venham a tona para balizar da melhor forma possível as decisões do mestre, independente de agradar A ou B e que o resultado seja garantido.
Um dos maiores riscos para os mestres é se cercar de pessoas descritas muito bem na frase de Barack Obama: “Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que te avisem quando você erra”. Os que acham que o mestre não precisa de um polimento em seu brilho, irão se enfileirar no time dos que preferem a zona de conforto e da mediocridade ao invés de zona mágica, onde as coisas acontecem e os bons se destacam.
Fechando esse nosso primeiro artigo sobre as 48 LEIS DO PODER faria apenas uma adaptação nessa primeira lei, baseada nos argumentos acima apresentados:
NÃO OFUSQUE O BRILHO DO MESTRE, MAS O MANTENHA SEMPRE POLIDO E ALERTA – Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam confortavelmente superiores, com a verdade prevalecendo sempre, com as vulnerabilidades sendo tratadas com rapidez e profissionalismo, dando segurança ao mestre de que seus assessores têm como grande e único objetivo o zelo pelos projetos e visão de futuro. Que sua equipe possa exibir seus próprios talentos para inspirar medo e insegurança nos concorrentes do outro lado da rua e para os de casa o alerta de que a regra na organização é ser competente e não puxa-saco. Faça com que seus mestres sejam brilhantes baseados na competência e no aprendizado contínuo e você alcançará o ápice do poder lado a lado do mestre e não correrá o risco de ficar no fundo da fila junto aos medíocres e bajuladores que jamais ocuparam as primeiras filas em lugar algum.
Por: Weber Negreiros