OS CONFLITOS ÉTICOS DAS 48 LEIS DO PODER
BANQUE O AMIGO, HAJA COMO ESPIÃO
Existem pessoas que vieram ao mundo e descobriram que a falta de limite pessoal pode ser uma escolha e passam a fazer uso disso como regra de vida. Essas pessoas que acham que o poder está cima de qualquer coisa e, se precisar passam por cima de qualquer um, sem o menor escrúpulo e jamais externado qualquer tipo de remorso. Agora pior do que a falta de limite é usá-la para transformar pessoas em “imbecis úteis”, que podem ser usados por pessoas inescrupulosas que se transformam em amigos leias para, como uma cobra, se preparando para dar o bote. A melhor obtenção de informação é a feita por diálogo, franco, honesto e respeitoso, agindo assim você terá muito mais informações e a tranquilidade de colocar a cabeça no travesseiro todos os dias sem nenhum peso na consciência.
No nosso artigo da semana vamos avaliar uma das leis que mais põe em choque o que é estratégia, do que é dissimulação do que é ético e o do que é imoral na prática. Ao “bancar o amigo” tendo objetivos totalmente diferentes do que os laços de amizade, isso gera uma grande confusão de interpretações e percepções. Se aproximar de alguém com o objetivo de descobrir algo, colher informações, avaliar fortalezas e fraquezas do “pseudo-amigo” pode gerar muitos conflitos e terminar muitas relações.
A afirmação “Finja ser amigo e aja como espião” está relacionada a estratégias manipulativas e maquiavélicas para obter informações e aumentar o poder. Embora alguns possam ver essa abordagem como eficaz em certos contextos, sejam eles na esfera pública privada, outros podem considerá-la antiética e prejudicial às relações interpessoais autênticas, onde o ser-humano põe no outro a confiança em confidenciar suas habilidades, competências, mas também suas fragilidades.
Cabe a cada pessoa decidir se concorda ou discorda dessa abordagem em suas relações pessoais e profissionais.
Vejam o que diz a lei 14, do livro “As 48 leis do poder” de Robert Greene:
Lei nº 14 – Banque o amigo, aja como espião: Conhecer o seu rival é importantíssimo. Use espiões para colher informações preciosas que o colocarão um passo à frente. Melhor ainda: represente você mesmo o papel de espião. Em encontros sociais, aprenda a sondar. Faça perguntas indiretas para conseguir que as pessoas revelem seus pontos fracos e intenções. Todas as ocasiões são oportunidades para uma ardilosa espionagem.
Essa lei sugere que as pessoas, podem ter a possibilidade de obter informações valiosas sobre outras se revestindo do papel de amigo, enquanto na verdade estão coletando informações para usar em seu próprio benefício, num projeto de poder, onde quem deu a informação, muitas vezes não fara parte dele e muito menos será lembrando em caso de sucesso do outro.
Contudo, creio que isso levanta, mais uma vez, questões éticas importantes. Precisamos construir, zelar e respeitar os relacionamentos sinceros e baseados na confiança, sendo isso fundamental nas interações humanas.
Particularmente, tenho certeza de que a honestidade e a integridade são valores mais importantes do que procurar obter poder de maneiras manipuladoras e enganosas. Longe de acharmos que esse pensamento impera em todos os seres humanos, mas conquista baseada no “poder a qualquer custo”, não são sustentáveis e acabam revelando o pior do ser humano na busca do poder.
Quando paramos para analisar a afirmação “Finja ser amigo e aja como espião” a leitura se torna simples, dependendo do ângulo que você observar. Tem gente que irá montar estratégias de usar relacionamentos para obter informações valiosas para um projeto egoísta de poder e tem gente que usará a mesma lei para mostrar que com clareza, honestidade e respeito ao próximo você também terá informações valiosas, porém sem nenhum tipo de peso na consciência, muito menos remorsos na hora de utilizá-las.
Quando observamos essa lei pelo lado “bom da força” iremos destacar vários aspectos positivos, como por exemplo: ter acesso a informação privilegiada, importantes sobre outras pessoas ou grupos pode ser útil no processo de tomada de decisões, informá-las e prever comportamentos.
Outro ponto é podermos nos proteger de ameaças, pois ao coletar informações sobre potenciais concorrentes, adversários ou rivais, pode-se identificar e antecipar ameaças e agir estrategicamente, com velocidade, minimizando impactos, prejuízos e gasto de energia em contra-ataques mal elaborados, que com certeza serão fracassados.
Mas nem tudo são flores, existe o “lado negro da força”, aspectos negativos que acompanham essa lei, como o principal deles que é o conflito ético. Fingir proximidade e agir ardilosamente para se beneficiar da confiança
do outro, pode ser considerado desonesto e manipulador. Isso pode resultar em conflitos éticos, afetando a imagem pessoal ou de uma organização.
Os prejuízos aos relacionamentos é outra consequência grave no uso indevido dessa lei. Quando a verdade sobre a espionagem é revelada, pode resultar em desconfiança, mágoa e até mesmo o fim de relacionamentos. Além disso, a reputação de quem agiu como espião pode ser prejudicada, dificultando a formação de novos relacionamentos.
Como vocês puderam acompanhar, nas relações sempre irá existir lados, versões e percepções diferentes, porém reafirmo que os valores não podem ser subjugados por projetos egoístas de poder.
Em resumo, a abordagem “Finja ser amigo e aja como espião” tem potencial para fornecer vantagens em termos de informação e proteção, mas também pode trazer sérias consequências negativas no âmbito ético e relacional.
É importante lembrar que nem todas as estratégias apresentadas por essa lei, são igualmente adequadas ou éticas para todos os contextos. Algumas pessoas podem interpretar a lei de maneira diferente, e é fundamental considerar o impacto de nossas ações nos outros e em nós mesmos, mas respeitando sempre a opinião do outro, pois o plantio é livre, é de sua escolha, mas a colheita é obrigatória na vida de todos nós. Você colhe o que você planta.
Fechando esse nosso décimo quarto artigo sobre as 48 LEIS DO PODER faria apenas algumas adaptações, baseada nos argumentos acima apresentados:
Lei nº 14 – Seja amigo e aja como tal: Conhecer o outro é importantíssimo. Use suas habilidades comunicacionais e sua credibilidade para colher informações preciosas que você poderá usar em sua construção de estratégias e se diferenciar dos outros, colocando-o um passo à frente. Nunca use a confiança do outro para se beneficiar. Seus valores serão sua grande chave que abrirá toda e qualquer porta. Aprenda a sondar, sem matar o sonho do outro. Faça perguntas sinceras, mantenha as pessoas tendo a importância que merecem e assim você conseguirá tudo das pessoas, desde suas fragilidades, fortalezas e intenções e caso vá utilizá-las não esqueça das consequências. Caso sejam eticamente usadas teremos um mundo melhor, caso contrário continuaremos a destruir um mundo feito por pessoas e para pessoas. Respeite os limites, crie limites, mas nunca esqueça que relações nasceram para serem duradouras e boa para todas as partes.
Por: Weber Negreiros