Enquanto autoridades aparecem em institucionais fazendo mídia e média sobre o Novembro Azul, que é uma campanha de conscientização e prevenção do câncer de próstata, a realidade na saúde pública não condiz com o atendimento que a população deveria receber gratuitamente e de boa qualidade. Continua faltando desde material básico na rede estadual, dificultando ainda mais a vida de pacientes com câncer.
A família de um paciente com câncer de próstata, cansada dos descasos corriqueiros, decidiu ir ao perfil na rede social do governador, que faz propaganda do Novembro Azul, para relatar a falta de agulha para realizar biopsia no Hospital Geral de Roraima (HGR). A questão da falta desse material aparentemente simples é apenas uma pequena parte do sofrimento que o paciente e seus familiares vêm passando.
Ao descobrir que estava com câncer de próstata em estado avançado, a família tentou o benefício de Tratamento Fora de Domicílio (TFD), que foi negado, assim como ocorre com muitos. Por conta própria, ao buscar vaga em um hospital de referência em Barretos, em São Paulo, os médicos pediram a biopsia, a qual não foi realizada, no fim de semana passado, porque não havia a agulha no HGR.
A consequência disso é que o paciente pode perder a última chance de conseguir a vaga em Barretos, o que pode representar a última chance de um tratamento digno, o qual é negado em Roraima por vários motivos, incluindo a falta de estrutura necessária para atender dignamente as vítimas de câncer, além do desprezo com o qual são tratados os pacientes na rede pública.
O descaso com pacientes de câncer não é de agora. Só como exemplo, a obra do Centro de Radioterapia do Hospital Geral de Roraima, orçada pelo Governo Federal em R$ 15 milhões, se arrasta desde 2018, cujo projeto remonta ao governo do então presidente Michel Temer. E até hoje o problema segue sem que isso provoque indignação nas autoridades, especialmente nos órgãos fiscalizadores.
Apesar dessa visível falta de estrutura para atender os pacientes, o governo costuma negar a concessão do TFD, decretando praticamente a morte para quem não tem “pistolão” na política nem condições financeiras para conseguir uma vaga em Barreto. E por mais absurdo que possa parecer, essa não foi a primeira vez que a família do paciente em questão sofre com esse descaso governamental.
No ano passado, em condições muito semelhantes, a ex-mulher do mesmo paciente foi diagnosticada com câncer de esôfago. Ela também teve o TFD negado e, por meio de amigos, conseguiu vaga em Barretos, onde passou por tratamento que seria impossível em Roraima, onde o diagnóstico empurra todos para a longa fila de espera. Só em São Paulo a paciente recebeu o diagnóstico preciso da gravidade da doença e o tratamento digno, salvando sua vida.
Essa a situação da saúde pública em Roraima, onde as operações policiais na saúde pública tornaram-se corriqueiras desde a pandemia da Covid, produz uma realidade em que pacientes têm negado os seus mais básicos para continuarem lutando por suas vidas. Não se trata apenas da falta de uma agulha no HGR, quando operações policiais encontram dinheiro na cueca de investigados.
Enquanto isso, famílias são obrigadas a pedir dinheiro no semáforo, fazer vaquinha on-line ou realizar bingos e feijoadas para tentar levar os pacientes para tratamento fora de Roraima, como é o caso dessa família relatada nesse artigo…
*Colunista