Jessé Souza

Famelicos e vendilhoes 3020

Famélicos e vendilhõesEmbora a legislação contra crimes eleitorais tenha avançado consideravelmente, nos últimos anos, culminando com a Lei da Ficha Limpa, muita estrada precisa ser percorrida no Brasil. Os crimes eleitorais deixaram de ser praticados na “cara dura”, ou seja, de forma escancarada, pois era tradição deste país o Judiciário absolver ou mesmo aplicar uma pena branda para os acusados.Em tempos de Lava Jato e da tecnologia disponível que permite a produção de provas com qualquer aparelho celular, essa realidade vem mudando, obrigando o Judiciário a agir com rigor e colocando nas mãos do eleitor a possiblidade de ser um fiscal, um agente em favor da cidadania, capaz de flagrar e denunciar a compra de voto.Porém, ainda há muito desafios. É preciso também desratizar tanto lá em cima, no Judiciário, que ainda está impregnado por forças ocultas e retrógradas, quanto aqui em baixo, com o eleitor venal que brada contra a corrupção, mas continua negociando seu voto sob várias formas.Já que será difícil mudar essa engrenagem na Justiça, onde muitos são intocáveis em suas vitalicidades e na blindagem que o poder naturalmente permite, então é necessário apertar aqui em baixo, no eleitor, para que ele realmente faça sua parte na hora de ir às urnas, pois ele é a “voz de Deus”.Uma das formas de se fazer a faxina seria começar a punir os eleitores que vendem seus votos. Até aqui, fala-se tão somente em punir os políticos corruptos, mas o eleitor flagrado comercializando seu voto nada sofre, a não ser nos casos de flagrante a obrigação de depor como testemunha.Enquanto eleitores corrompidos não forem parar detrás das grades, junto com os políticos que compram voto, a Lei Ficha Limpa por si só não conseguirá fazer a limpeza que o país necessita, uma vez que o Judiciário sozinho jamais vai pesar seu martelo contra todos os corruptos da política brasileira.A legislação não conseguiu inibir os eleitores venais em todos os níveis, principalmente aqueles da classe média em diante, que vendem seu voto por cargos públicos, passagens áreas, festas de casamento, licitações, festas de formatura e outras benesses para familiares e amantes. No Brasil da esculhambação geral da nação, até agora somente os pobres são acusados de “famélicos vendedores de votos”. Enquanto os eleitores não começarem a ser punidos por seus atos vendilhões, a corrupção eleitoral não será reduzida. Pelo que se nota, muitos não estão mais acreditando em educação nem querendo conscientização, então é preciso que se puna severamente os vendedores de voto na mesma medida em que se pune quem compra voto. Não sendo assim, continuaremos com essa desfaçatez de que somente o político é safado. *JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main