JESSÉ SOUZA

Faroeste em frente à Rodoviária e a vergonhosa situação de uma área conflagrada  

Jovem venezuelano foi baleado em provável acerto de conta em frente da Rodoviária Internacional de Boa Vista (Foto: Divulgação)

A população sabe que o problema na segurança pública não é falta de viaturas policiais. Desde as eleições passadas, o que mais se viu foram carros zerados com adesivos da Polícia Civil e Polícia Militar estacionados no entorno do Palácio do Governo, na Praça do Centro Cívico, antes de serem entregues para servirem à segurança da população.

No entanto, quando se trata de policiamento ostensivo, a população boa-vistense vive intranquila com seguidos roubos e furtos nos bairros a qualquer hora do dia e da noite. Há recorrentes casos de bandidos invadindo residências para praticar assaltos na periferia. E ataques em frente de residências para tomar celular de pessoas que estão nas calçadas.

Então, percebe-se que algo está muito errado quando se registra um faroeste venezuelano, em plena luz do dia, no meio da tarde de ontem, na frente da Rodoviária Internacional de Boa Vista, um local de grande movimento de pessoas e de tráfego de veículos no trecho urbano da BR-401, que é a Avenida das Guianas. O tiroteio deixou ferido um venezuelano envolvido com tráfico de droga.

E percebe-se mais ainda quando, em plena 10 horas da manhã de domingo, uma viatura da PM chega no estacionamento de um movimentado supermercado, no bairro São Francisco, com dois policiais de bermuda para fazer compras. Ou quando uma viatura da PM fica plantada em frente da Casa da Cultura, na Avenida Jaime Brasil, fazendo vigilância patrimonial porque o prédio foi inaugurado, após restauração, mas não está funcionando.

Enquanto isso, aquela região onde está a Rodoviária de Boa Vista, na divisa dos bairros 13 de Setembro e São Vicente, onde vivem centenas de venezuelanos desabrigados, continua uma área conflagrada pelo tráfico há muito tempo. As autoridades sabem. As polícias sabem. A imprensa sabe. Mas é como se tudo ali já estivesse normalizado, pois a elite e as autoridades não viajam de ônibus.

A situação só piora a cada dia com o aumento do número de famílias estrangeiras dormindo na calçada dos comércios e canteiros no entorno da Rodoviária, realidade esta que acaba sendo aproveitada por traficantes estrangeiros, que disputam os pontos de venda e distribuição de drogas. O bairro 13 de Setembro é o mais impactado pela imigração em massa, inclusive padece com a favelização a partir da invasão de áreas próximas ao Rio Branco.

E mais estrangeiros chegam por lá, por ser ponto de referência pelo fato de lá estarem localizados o ponto de acolhimento de venezuelanos para quem precisa buscar uma vaga nos abrigos, a sede da Polícia Federal, onde os estrangeiros precisam se regularizar, e a Rodoviária, cercada por espaço público amplo utilizado para acampar ao relento por quem não tem onde ficar.

O 13 de Setembro há um certo tempo passou a ser dominado por uma facção venezuelana, que estabeleceu pontos de venda de droga e mantém uma disputa de território na base da violência bruta. Não faz muito tempo, quem desafiava esse poder paralelo acabou executado de forma cruel, com corpos esquartejados e desovados em via pública para que todos vissem e assim servisse de exemplo e aviso.

Tudo isso sob a omissão do poder público, especialmente da Segurança Pública, que nunca fez questão de retomar o controle daquele bairro, localizado em uma área onde não há rotas de fugas, a não ser se for nadando pelo Rio Branco, e onde entradas e saídas são fáceis de serem controladas, inclusive um dos trechos está sob domínio do Exército.

O bangue-bangue de acerto de conta na frente da Rodoviária entre traficantes venezuelanos é o cúmulo desse descaso com esta inflamada e triste realidade que mistura insegurança, tráfico de drogas, problemas sociais, pobreza e imigração desordenada. O que estão esperando acontecer para começarem a agir? Ou já entregaram aquele setor da cidade para as facções venezuelanas?

*Colunista

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