Cinco fatos que foram notícia na semana que se passou precisam de uma profunda reflexão a respeito do momento crítico a que chegou o Estado de Roraima no que diz respeito à criminalidade e à necessidade de uma ampla desratização. Há tempos que esta Coluna trata a respeito da nova geografia do crime e de seus reflexos para a população.
Duas denúncias que saíram de dentro do próprio meio policial são gravíssimas. Uma delas afirma que a Polícia Civil e a Polícia Militar não conseguem desempenhar suas atribuições porque falta combustível para abastecer viaturas. Uma situação inadmissível neste momento em que o crime mostra sua face a cada momento, desafiando os poderes constituídos.
Como se não bastasse a gravidade do fato, outra denúncia dá conta de que servidores do alto escalão da Polícia Civil estariam usando viaturas descaracterizadas para proveito próprio, levando para casa e passeando por aí, inclusive indo a barzinho. E tudo isso enquanto a realidade exige uma polícia judiciária ágil e comprometida para investigar os crimes que estão ocorrendo no Estado, nos últimos tempos.
Enquanto isso, a população se comovia com um crime covarde de uma mulher no bairro Senador Hélio Campos. Antônia Araújo Sousa, de 52 anos, foi morta com um tiro na cabeça no portão de casa, no bairro Senador Hélio Campos, na manhã de sexta-feira, 29, mostrando que o crime de pistolagem está bem vivo.
Roraima já viveu momentos críticos da pistolagem, cujos casos tiveram o dedo da política local e outros porque alguém bateu de frente com os interesses de gente poderosa. É por isso que a execução daquela mulher precisa ser bem esclarecida, pois os personagens do passado recente de pistolagem ainda andam por aí, como se fossem uma caveira dentro do armário de nossa política.
Não bastassem esses casos, um fato que ocorreu no Sul do Estado precisa ser destaco: a Vara Criminal do Município de Rorainópolis decidiu pela liberdade de dois homens que haviam sido presos em flagrante transportando 243 quilos de skunk, episódio que ocorreu na quinta-feira, 28, na Vila Nova Colina.
Um dos envolvidos já trabalhou para um político com mandato, o mesmo que teve o nome citado como dono de uma fazenda em Rorainópolis onde, em agosto passado, a Polícia Federal apreendeu 1.215 Kg de skunk e cocaína e dois fuzis de guerra modelo AK-47. Coincidência ou não, o as investigações continuam. E o grande questionamento diz respeito à decisão judicial que mandou soltar dois suspeitos que foram flagrados com uma grande quantidade de droga.
E, por último, tem o caso de um garimpeiro que denunciou categoricamente que outros dois colegas garimpeiros, entre eles um adolescente, foram executados por militares do Exército, na noite do dia 21, quando eles tentavam acessar pelo rio um dos garimpos ilegais na Terra Yanomami. Trata-se de uma séria denúncia que precisa ser bem esclarecida, uma vez que, no governo passado, surgiram fartas denúncias que militares teriam sido cooptados pelos operadores do garimpo ilegal.
Conforme as fartas publicações, inclusive desta Coluna, uma facção criminosa chegara ao garimpo na Terra Yanomami, dando nova dinâmica à atuação do crime organizado, que saiu dos centros urbanos para buscar uma nova forma de ganhar dinheiro e ampliar seus tentáculos de negócios ilegais nos confins da floresta Amazônia, onde o poder público geralmente não costuma chegar. Essa é a nova geografia do crime no Norte brasileiro.
Diante de todo esse cenário, não é de hoje que havia denúncia de que a PM racionava combustível somente até certa hora da noite, deixando a madrugada boa-vistense descoberta do policiamento ostensivo justamente por falta de combustível. Logo, a denúncia que surgiu só corroborou para o cenário de insegurança que começou a reinar no Estado nos últimos meses.
A execução da mulher com um tiro covarde na cabeça deixa claro que é necessário redesenhar a Segurança Pública, o que já deveria ter ocorrido há tempos. Da mesma forma que o avanço do narcotráfico no Sul do Estado constrói uma nova realidade, que se conecta com a bandidagem que domina a Terra Yanomami, onde tráfico de droga e de minério se conectam de alguma forma.
Os fatos estão aí. As autoridades precisam dar respostas para a sociedade, inclusive o Judiciário quando manda soltar dois homens presos com uma grande quantidade de droga em uma região onde a política está em campanha eleitoral antecipada. O momento é de atenção por parte da sociedade. Os fatos estão à mesa. Quem irá dar as resposta?
*Colunista