Favela prisionalEntra governo e sai governo, mas a atitudes em relação ao sistema prisional seguem o mesmo roteiro: quando ocorre um problema mais grave, o governo anuncia medidas (que nunca são cumpridas), os deputados sobem à tribuna com discursos inflamados (que não dão em nada), entidades aprontam relatórios (repetidos) e Ministério Público divulga suas ações judiciais que pedem melhorias nos presídios (mas nunca atendidas).
Quando a imprensa esquece do fato, porque logo surgem outros tão ou mais graves, o assunto volta à mesmice, sem vontade política dos governantes, sem interesse por parte dos parlamentares e do enfadonho papel de órgãos fiscalizadores e entidades. E o caos fica para o depositário de gente vigiada por servidores que trabalham cada vez mais sem estrutura.
Como não há uma mobilização de fato, por parte das autoridades, quem está nesta “panela de pressão” vê-se obrigado a aceitar as regras desse jogo, no qual quem manda são os bandidos, mais precisamente as facções criminosas que estão mais organizadas neste país do que governos e muitas Organizações Não Governamentais (ONGs) .
Aceitar a regra desse jogo significa conceder regalias a presos para que a panela de pressão não exploda, trabalhar com improvisos e remendos, fazer vistas grossas em situações ilegais e ficar rezando para que não haja nova fuga em massa em seus plantões.
Solucionar os graves problemas no sistema prisional significaria amenizar boa parte dos crimes que ocorre no Estado, pois muitos dos bandidos que tiram o sossego dos roraimenses são foragidos da Penitenciária ou aqueles que não voltaram para o albergue a fim de cumprir o semiaberto.
O caos nos presídios significa mais problemas para as polícias, que trabalham no limite, com estrutura física precária e quantitativo de pessoal defasado. Isso sem contar que é necessário disponibilizar mais pessoal, recurso e estrutura para capturar foragidos, os quais deveriam estar cumprindo suas penas, não só segregados da sociedade, mas seguros de que não seriam cooptados por organizações criminosas.
Porém, os governantes optam por fugir da verdade, omitindo dados da imprensa, fingindo que estão tomando providências e escondendo fatos da sociedade como se o caos não estivesse instalado há muito tempo no sistema, principalmente na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo.
Não é preciso esforço para perceber que a Penitenciária é uma favela de presos e que, na Cadeia Pública, uma obra inacabada há anos, que pode ser vista por quem passa pela frente, é um símbolo óbvio da irresponsabilidade administrativa dos governantes. Enfim, somente vontade política irá mudar esse quadro, mas parece que as autoridades e políticos de uma forma geral não têm interesse em encarar isso como prioridade.
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