Jessé Souza

Filho de quem 1291

Filho de quem!?“Sabe com quem você está falando?”. É desta forma que o Estado de Roraima vem sendo conduzido de longas datas, desde quando dinheiro público passou a ser misturado com contas particulares, pessoas físicas passaram a se achar donas dos governos, e autoridades públicas se arvoraram com poderes absolutos sobre o que é público e o que é privado.

No meio disso, existem os veículos de comunicação que se partidarizaram, mesmo sendo concessão pública, servindo de instrumento opressor a supostos adversários políticos, explorando a desgraça humana como isca para suas programações, colocando na linha de frente os trabalhadores que, se não se dispuserem a fazer a jogatina do poder, serão substituídos imediatamente pelo próximo da fila.

Tudo isso pôde ser comprovado em um episódio no fim de semana passado, quando tudo se misturou em um bolo só. O que era para ser uma ocorrência policial, de trânsito e de primeiros-socorros, se transformou em uma confusão generalizada em que todos os abusos possíveis e inimagináveis foram cometidos por todas as partes, do cidadão a mais alta autoridade.

Como a política construiu feudos, pistolões e favorecimentos, todos querem se achar acima do bem e do mal, das leis e das regras. Da fila do banco privado ao atendimento em órgãos públicos até chegar à convivência no trânsito. Os que se sentem integrantes dessa cultura do “sabe com quem você está falando?” querem privilégios e não medem esforços para oprimir quem eles acham que está abaixo na escala da pirâmide social da sem-vergonhice política partidária.

Quem está no poder ou tem padrinhos no cume da pirâmide não hesita em dar carteiradas ou sacar seu diploma abonador de privilégio e status. Quem representa o Estado se acha acima dele. E quem tem representantes por lá acha que não deve obedecer a autoridades e leis. Desta forma, está formada a confusão em que todos mandam e ninguém quer obedecer.

Até shoppings, pela localização geográfica, são divididos socialmente em “shopping dos pobres” e “shopping dos ricos”. Aliás, as zonas da cidade são bem definidas: de um lado o povo; do outro, os eleitos que estão acima de que qualquer povo; no meio, mais precisamente na Praça do Centro Cívico, os que mandam e desmandam.

Não há como haver diálogo e igualdade em uma sociedade dominada por semideuses e por aqueles que são tocados e protegidos por eles. Até polícia sabe que existe um código a seguir quando se trata de ocorrências envolvendo os filhos daqueles que já nascem com uma fatura debaixo do braço para receber dos governos.

Há uma posse declarada daqueles que acham que governo é propriedade particular de quem está no poder ou dos que se beneficiam dele. Então, é preciso que se construa uma nova sociedade, se quisermos desenvolver esta terra. A começar pela forma de questionar. Em vez de “Sabe com quem você está falando?”, é preciso perguntar: “Quem você pensa que é?”.

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