Jessé Souza
Flores e vales 22 05 2015 1020
Flores e vales – Jessé Souza* A situação do Estado de Roraima chegou a este nível de endividamento porque o governo sempre foi administrado pensando nas empreiteiras, e não no bem-estar do povo, quem deveria se beneficiar com as obras e investimentos para os quais chegaram (e chegam) recursos federais. Obras para os setores importantes, como educação, saúde e segurança, por exemplo, serviram não como forma de inclusão social ou para melhorar a estrutura a fim de servir a coletividade, mas pensando em enriquecimento ilícito, financiamento de campanhas e divisão de despojos entre grupos ou particulares. Quando se pensa no bem-estar das empreiteiras, a qualidade das obras fica comprometida e os custos passam a ser os mais altos possíveis para que se possa bancar os esquemas, os quais servem para manter essa política que aí está, com o domínio nas mãos daqueles que todos sabemos, mas fingimos não enxergar. As inversões estão às claras, mas não queremos ver porque é conveniente para todos deixar tudo como está: flores em vez de semáforos; vale-alimentação em vez de formação profissional e direcionamento para o mercado de trabalho; alugueis de carros e casas em vez de aquisições permanentes. Não havia como essa conta fechar, no final (se é que haverá final). Agora estamos pagando a conta da farra que vem sendo feita desbragadamente, na cara dura, fazendo pouco caso da Justiça, dos órgãos fiscalizadores e todos aqueles que conseguem enxergar a realidade e que cobram respeito ao bem público. Inexiste uma política voltada para o povo, que escute os movimentos sociais, entidades produtivas organizadas, associações, sindicatos e cooperativas. O único “movimento social” a quem é dada atenção é a de invasores de terras, pois isso dá votos e ainda lança uma cortina de fumaça na grilagem de terras feitas por autoridades das mais altas esferas. O que sempre existiu em Roraima foi um desgoverno ou um governo direcionado a grupos, que chegou a sua máxima expressão nas duas últimas administrações, quando se perdeu a vergonha e o respeito pelo bem público, fazendo com que o Estado caísse de vez no buraco. Não há outra alternativa ao povo senão pagar a conta. Porém, é necessário que as pessoas comecem a enxergar que não se pode mais permitir que governantes administrem para empreiteiras e para grupos. Também é preciso governar não apenas para o povo, mas com o povo. Governar por meio de faturas para empresas não é mais possível, a não ser que o povo queira isso mesmo, que continuemos a afundar ainda mais ao ponto de institucionalizar a bandalheira como nosso legado como roraimenses. *Jornalista [email protected]