JESSÉ SOUZA

FolhaBV 41 anos: da linotipo à rotativa, da internet à IA, o que não muda é o compromisso

Por 37 anos, Folha impressa traduziu os anseios da sociedade roraimense por meio do jornalismo (Foto: Arquivo/Folhabv)
Por 37 anos, Folha impressa traduziu os anseios da sociedade roraimense por meio do jornalismo (Foto: Arquivo/Folhabv)
Impresso comemorativo de 16 anos atrás mostra linha do tempo de 25 anos de história da Folha de Boa Vista

A pandemia encurtou a sobrevida que ainda havia no jornal impresso da Folha de Boa Vista, no ano de 2020, designando um novo rumo do jornalismo da hoje FolhaBV, que se abrigou definitivamente na internet e se solidificou como a conhecemos agora.  De longe, esse nem foi o principal desafio do principal jornal roraimense nesses 41 anos de circulação ininterrupta, feito este comemorado hoje pelos profissionais que fazem o jornal e seus fiéis leitores.

Desde a sua criação, em 21 de outubro de 1983, a Folha teve que se adaptar aos novos tempos, tendo que superar as formas consideradas atualmente arcaicas e artesanais de impressão, porém modernas para a época, além do duro ofício de apurar notícias em que telefone fixo era luxo e carro um desafio. Até as fotografias tiveram que se adaptar dos trabalhosos laboratórios de revelação, processo que mais parecia truque de mágica, às modernas máquinas digitais.

Mas mágica mesmo quem tinha que fazer eram os profissionais de imprensa daquelas épocas históricas diante dos desafios que a cada ciclo se apresentavam, pois em um dia estavam todos datilografando em barulhentas máquinas nervosas e, em outro belo dia de sol quente, tinham que aprender, às pressas e na marra, a digitar no silêncio de uma redação sem cigarros e com ar-condicionado. Quantos textos perdidos e trabalhos refeitos!

Benção veio depois para os fotógrafos, que se livraram do cárcere de uma sala escura e com cheiro forte de química, para a liberdade da nova mágica tecnológica de ter suas imagens armazenadas dentro da máquina digital, esta sem rolo de filme com seu número limitado de poses e com o risco diário de ter “queimado tudo”, em um dia perdido de trabalho e de terror profissional que poderia custar o emprego.

Foi assim que, em 1997, chegou o grande desafio: a chegada da mais moderna máquina impressa, a rotativa, que trouxe cores e mais vida, mais agilidade e nova forma de produção fora do preto e branco, exigindo mais acuidade de diagramadores, fotógrafos e impressores. Enquanto os jornalistas e diretores comemoravam o salto na área de impressão e do novo visual que estava por vir, sem grandes mudanças na Redação, os impressores, de quem quase não se ouvia falar porque sempre varavam a madrugada, tiveram que encarar a desafiadora readaptação profissional.

Aliás, a Folha impressa era como um grande navio. Lá em cima, os profissionais de imprensa e outros funcionários administrativos. Lá embaixo, os profissionais da impressão, encadernação e distribuição, os ocultos guerreiros que não podiam parar na madrugada porque, senão, não tinha jornal e todo um duro trabalho do dia anterior era perdido, além dos prejuízos incalculáveis.

Outro desafio, também na década de 1990, foi a chegada da internet, que nem sempre foi assim. Era discada, que quase nunca funcionava (e o povo reclama hoje de lentidão) e servia apenas para pesquisas e contatos por e-mail. Então, em 1998,  a Folha circulou pela primeira vez na internet, outro grande salto de modernidade e também momento de muitas incertezas sobre a vida do papel. Era o início da nova readaptação profissional, com novos recursos, novas linguagens e novas formas de produzir conteúdo.

Quem era completamente analógico teve que aprender a ser digital da forma que desse sob o risco de ficar para trás. E assim, em 2002, a Era digital chegou na Editoria de Fotografia. E apenas três anos depois, em 2005, que ficou consolidado o Grupo Folha da forma que hoje é conhecido, com o início da FolhaWeb, que caminhava lado a lado com o impresso e que, com o fim inevitável do jornal em papel, passou a se chamar FolhaBV.

Nesse interim da transição do analógico para o digital, chegaram os celulares, primeiro sem internet e apenas para ligações, garantindo mais recursos, agilidade e liberdade para os jornalistas, para em seguida ser da forma que conhecemos hoje, uma maravilha tecnológica com tudo dentro, os quais todos sabemos como funcionam e que permitem formas cada vez mais ágeis e modernas de produção não só de notícia, mas de outros conteúdos que alimentam as permissivas redes sociais que tudo aceitam, como se fossem armadilhas cuspindo iscas das mais variadas.

Agora, chegou a Inteligência Artificial (IA), que irá ditar novos comportamentos, novas formas de produção e, se bobear, pode até substituir alguns profissionais de imprensa que dormirem muito. O novo desafio está lançado. Porém, nesses 41 anos de jornalismo da FolhaBV, o maior de todos os desafios foi manter a linha independente de fazer jornalismo, com compromisso com o leitor e focado no desenvolvimento de Roraima.

Com essa premissa, a FolhaBV vem desempenhando um papel imprescindível desde sua origem, servindo não apenas de canal de informação, mas de contestações e consciência crítica, caminhando junto com a sociedade nas mudanças políticas e sociais. A Folha não apenas presenciou e noticiou a criação do Estado, mas também ajudou a erguer seus pilares democráticos. O papel de independência provocou impactos decisivos na História de Roraima. E esse é o desafio que precisa sempre estar em pauta a cada grande transformação social e tecnológica que estão por vir.

É crucial o combate à mentira. Porém, a mentira sempre foi um sério problema a ser combatido em todas as épocas, ainda que hoje ela tenha outro nome, fake news, e que circule de forma instantânea. Mas um bom jornalismo comprometido com o seu público e com a sociedade sempre estará preparado para essa batalha contra a distorção da verdade que visa influenciar negativamente a sociedade.

Parabéns, FolhaBV, pelos 41 anos, e a todos os seus profissionais e leitores, os quais entendem que esse compromisso mantido ao longo dessas mais de quatro décadas é que faz a grande diferença.

*Colunista

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