JESSÉ SOUZA

Garimpo migra para fronteira com Guiana e Venezuela, onde rede de crimes está sendo instalada

Ação de conscientização contra tráfico de pessoas: problemas se agravam na fronteira Norte de Roraima (Foto: Divulgação)

Enquanto profissionais de saúde indígena lutam por melhores condições de trabalho para atuarem junto aos povos Yanomami, vítimas de doenças a exemplo da malária, alcoolismo e desnutrição levadas pelo garimpo ilegal a suas comunidades, os patrocinadores do garimpo ilegal estão migrando para as fronteiras com a Venezuela e Guiana, ao Norte e Nordeste de Roraima.

Junto com os garimpeiros que estão sendo reprimidos e retirados da Terra Indígena Yanomami também estão indo os crimes que geralmente são ligados à mineração ilegal, como tráfico de droga e de armas, além de crimes de exploração sexual de mulheres. Os mantenedores do garimpo estão se instalando nos municípios de Uiramutã e Bonfim, municípios de grande concentração de comunidades indígenas.

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Conforme Márcia Oliveira, doutora em sociedade e cultura na Amazônia pela Universidade Federal da Amazônia (Ufam), com pós-doutorado em sociedade e fronteiras pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), em seu artigo intitulado “Tráfico de pessoas na Amazônia: a fronteira do abandono”, esse movimento do garimpo na fronteira tem favorecido o tráfico de pessoas, principalmente de mulheres, crianças e adolescentes indígenas.

Conforme ela relatou, em visita à fronteira com a Venezuela, representantes da Comissão Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) encontraram crianças sendo aliciadas para trabalho análogo à escravidão em garimpos clandestinos. Meninas indígenas estão sendo levadas de Uiramutã e Bonfim para serviço sexual em garimpos do lado guianense, agora ocupados por brasileiros que migraram da Terra Yanomami diante das ações de repressão ao garimpo ilegal.

A pesquisadora afirma que a exploração sexual na fronteira ocorre em festas patrocinadas e promovidas por grandes empresas de mineração, quando aliciadores levam crianças e adolescentes do Uiramutã para serem oferecidas e servirem de atração para os garimpeiros do lado guianense. A sede de Uiramutã se tornou um imenso arraial, com a chegada de mais garimpeiros. Os próprios moradores passaram a investir no grande comércio de apoio e logística ao garimpo do lado guianense.

Márcia Oliveira relatou que, recentemente, quatro adolescentes de 15 a 17 anos foram resgatadas de um esquema de exploração sexual em Lethem, na Guiana, sendo três de Boa Vista e uma de Santa Catarina. A investigação feita pela Polícia Federal, com apoio da Agência de Enfrentamento ao Tráfico da Guiana, após denúncia de uma mãe, mostrou que essas meninas foram traficadas para atender a elites econômicas da região.

Com esse redesenho das atividades ilícitas que acompanham o garimpo ilegal, as autoridades precisam estar atentas ao que está ocorrendo na fronteira brasileira com a Venezuela e Guiana, especialmente em relação às mulheres indígenas, que passaram a ser alvo do esquema de tráfico de pessoas. A pesquisadora afirma que a fragilidade da fiscalização e ausência do poder público na fronteira contribuem para a instalação de corredores para redes criminosas que exploram mulheres, crianças e adolescentes.

 *Colunista

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