JESSÉ SOUZA

Gasolina em carote e uma decisão que desconhece a realidade do brasileiro

Postos de combustíveis não estão mais abastecendo combustível em galões por determinação da ANTT (Foto: Divulgação)

Há quase um mês, as pessoas que moram no interior do Estado onde não há postos de combustíveis foram pegos de surpresa ao serem informados que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) proibiu a venda de combustível em carotes (galões). É um duro golpe a quem já sofre as consequências de uma vida difícil nas localidades mais distantes, seja na zona rural da Capital ou nos municípios do interior.

O Município do Uiramutã é uma dessas localidades onde só é possível abastecer o veículo com a gasolina comprada em carotes em Boa Vista e revendida para a população local. Nas vilas mais distantes do Município do Amajari, a exemplo da Serra do Tepequém, o principal ponto turístico de Roraima, boa parte das pessoas depende da gasolina levada pelos próprios moradores em carotes.

Não apenas isso. Trabalhadores informais do interior que dependem da gasolina para seus equipamentos (como roçadeiras, motosserras e até pequenos geradores) são os mais prejudicados, pois dependem de combustível levado em recipientes para desempenhar suas atividades. Com esta proibição, ficam não apenas impossibilitados de trabalhar como também de manter suas famílias.

Enquanto a proibição vale para a população de uma forma geral, vários órgãos dos governos no interior continuam levando combustível nos carotes armazenados na traseira dos veículos, em clara exibição que revela a existência de dois pesos e duas medidas. Uma decisão tomada em gabinete e que desconhece a realidade de um Brasil continental onde os mais pobres vivem de exclusões, a exemplo da falta de um posto de gasolina.

Achar que proibir a venda de combustível em carotes é uma medida que irá coibir o garimpo ilegal é desafiar a inteligência das pessoas, além de punir uma grande parcela da população que vive distante dos centros do poder, onde as autoridades só costumam chegar em período eleitoral para comprar votos em troca de algum benefício social, cono está ocorrendo neste momento.

O garimpo ilegal se combate de outra forma, sufocando empresários e políticos que financiam a invasão de terras indígenas, e não proibindo os postos de combustíveis de abastecerem dois ou três carotes nos veículos de pessoas que moram no interior. A gasolina que abastece as atividades ilegais anda de avião que pousa e decola de fazendas que pertencem a meia dúzia de poderosos de Roraima.

Carote na traseira de carro é sinal de muito sacrifício de quem sequer pode abastecer legalmente na região onde mora. Muitas vezes, abastecer nessas localidades é se submeter a um alto preço, onde é cobrado R$10,00 por litro de gasolina justamente por não haver um posto de combustível, a exemplo de Tepequém, onde um posto de abastecimento mais próximo fica a 50Km de distância.

O assunto é de conhecimento das autoridades locais, pois essa elite depende do trabalho do grande contingente de pessoas que vivem na informalidade, trabalhando nas fazendas, sítios e casas de veraneio localizadas nos municípios do interior, trabalhadores estes         que precisam da gasolina para seus equipamentos de trabalho. É de suma importância que essa decisão seja revista o mais breve possível, para que alivie a vida de quem batalha duro longe da Capital e dos centros urbanos.

*Colunista

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