Jessé Souza

Habemos shopping 02 12 2014 343

Habemos shopping Jessé Souza* A inauguração de dois shoppings em Boa Vista foi o assunto principal nas postagens de internautas na semana que se passou, gerando ampla repercussão por vários motivos. Não poderia ser diferente em um único Estado brasileiro que ainda não tinha um Mall e que necessitava de um empreendimento desta envergadura para começar a traçar um novo rumo em seu desenvolvimento. É evidente que a chegada desses dois centros de compras é visto como uma grande ameaça para comércios locais que vivem na dificuldade e acossados por áreas de livre comércio na Venezuela e Guiana, nas fronteiras Norte e Leste, além da Zona Franca de Manaus, no vizinho Amazonas, ao Sul. Porém, os empreendimentos recém-inaugurados trazem uma nova realidade que tiram muitos empresários de sua zona de conforto e obrigam o fim da mentalidade ultrapassada de que Boa Vista é uma cidade onde o consumidor é tratado no chute ou no resquício do tempo do garimpo. Agora é hora da concorrência e da competência, embora existam outros fatores econômicos a serem observados (porém, deixo esse assunto para os especialistas). Mas o fato é que demos mais um passo para que Roraima possa respirar novos ares e mostrar que existe uma realidade além do horizonte de pessimismo e da masmorra de uma política partidária que insiste em querer que tudo permaneça como está, na base do “quanto pior, melhor para os políticos”. Essa forma de fazer política nos deixou tão atrofiados, que muitos passaram a torcer contra e a fazer análises catastróficas sobre o futuro dos shoppings, como se a existência de Roraima só fosse possível por meio dos políticos que se autopromovem como “trazedores de recursos” e que tudo por aqui só poderia girar em torno de seu poderio político. Como o roraimense ficou sequelado por esta forma de fazer política, ele fica achando que a nossa vida depende tão somente de senador “trazedor de recurso”, da “caneta que nomeia” no Palácio do Governo e das empresas comandadas por testas de ferro de políticos ou das decisões tomadas por empresários que mais querem se dar bem do que crescer junto com o Estado. Por longos anos, os políticos meteram medo no roraimense, o fazendo temer mudanças, o fazendo crer que seria melhor deixar tudo como está (ou seja, mantendo os mesmos políticos no poder) sob a justificativa de que o Estado não poderia correr o risco de piorar ou morrer à míngua. Além disso, o pensamento tacanho que se cultivou por aqui, carregado de preconceito e racismo, aflorou com a inauguração dos shoppings. Rapidamente reacendeu-se um pensamento discriminatório e excludente social e econômico, querendo separar pobre dos ricos, eleitos de não eleitos, brancos de índios.  É este pensamento que temos de superar rapidamente se quisermos ser um Estado desenvolvido. Não é apenas um shopping que irá transformar nossa realidade e nossa economia, mas também nossa forma de pensar e agir. Somos um Estado multicultural, com várias realidades se fundindo. Se não abrirmos nossos olhos e nossas mentes, continuaremos tão pobres mesmo com o desenvolvimento chegando por estas terras. *Jornalista [email protected]