Hora da colheitaRelegada ao esquecimento pelo centro do poder, em Brasília, a região amazônica está sendo responsável por chamar a atenção do país para a situação do sistema penitenciário brasileiro, há muito tempo falido, mas sempre ignorado pelas autoridades. O que está acontecendo por aqui é resultado de anos do abandono por parte de quem sempre esteve no comando do poder.
A barbárie instalada nos presídios de Roraima e Amazonas é a consequência de décadas de ausência de políticas públicas nos setores mais básicos, em que os políticos regionais, em consonância com os coronéis da política nacional, fingiram discursos de que a Amazônia é o celeiro do mundo e da biodiversidade, mas deixando à margem quem jamais deveria ter sido esquecido: o amazônida, o ser humano, as famílias que sobrevivem das migalhas, do sobejo dos grandes centros.
Estamos vivendo em uma região riquíssima de potencialidades e riquezas, mas cada vez mais pobre de educação, saúde, educação, infraestrutura, política social e de investimento nas pessoas, nas famílias, nos jovens, nas crianças. Os políticos passaram décadas mentindo, fazendo discursos de que “somos o futuro”, sem investir no presente, no hoje, no agora.
Enquanto fraudavam os grandes projetos derrotados pela incompetência ou corrupção, e mentiam por meio de discursos de desenvolvimento fantasiosos, nossas crianças estavam fragilizadas, nossos adolescentes se entregando às drogas e à ociosidade e as famílias empobrecidas, correndo atrás do salário do subemprego e da informalidade, ou no desemprego por falta de formação e profissionalização.
Em Roraima, até hoje existe o fantasma de apagões porque os políticos mentiram que estavam resolvendo a questão de matriz energética. E isso é apenas um exemplo de que o discurso de desenvolvimento sempre foi uma balela na boca dos políticos.
Com os governantes ausentes em todos os níveis e políticos desinteressados, a região amazônica foi inflando suas mazelas. Estados como o de Roraima, que deveria ser exemplo para o mundo em desenvolvimento, respeitando o meio ambiente, hoje se mostra um caos, com o maior presídio sendo o “cartão de visita” que exibe tudo aquilo que deixou de ser feito em políticas públicas.
Criaram a cultura da “paranoia da internacionalização da Amazônia”, deixando o povo sequelado para qualquer discurso paranoico, abrindo caminho para que as pessoas não consigam enxergar que o grande perigo em nossa região não eram “invasores internacionais” ou a “tomada da Amazônia pelos Estados Unidos”, mas os próprios políticos – velhacos, corruptos, incompetentes ou estáticos. Os presídios são fruto disso tudo. É a hora da colheita.
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