INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E A IMPERATRIZ LEOPOLDINA
Uma mulher assinou o decreto da Independência do Brasil
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A história oficial retrata a independência do Brasil como um movimento essencialmente masculino. Desde os primeiros anos escolares, todos aprendem os nomes dos personagens mais ilustres dessa saga, como José Bonifácio de Andrada e Silva, Clemente Pereira, Gonçalves Ledo, Almirante Cochrane e outros “patriotas”, como eram chamados os adeptos da causa. À frente deles, destaca-se Dom Pedro I, que, de espada em punho, teria feito o gesto dramático, retratado na pintura da tela original “Independência ou Morte”, conhecida também como “O Grito do Ipiranga”, do artista brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905).
Um detalhe histórico interessante nesta pintura é que o fato (da Independência), realmente ocorreu no dia 07 de Setembro de 1822, mas o quadro só foi pintado pelo Pedro Américo em 1888, ou seja: 66 anos após a independência ser proclamada. E, só foi possível termos esta “lembrança”, porque o pai de Pedro I, o Dom Pedro II, encomendou a feitura do quadro para o pintor Pedro Américo que, à época, se encontrava na cidade de Florença /Itália. O quadro, que simboliza o fim do jugo português, mede 4,15m de altura por 7,60m de largura, encontra-se no Salão Nobre do Museu Paulista.
Como se vê, o cenário é todo masculino. Porém, só agora os pesquisadores se voltaram para uma figura feminina, sensível e discreta, mas não menos corajosa e idealista: a princesa Leopoldina, a primeira mulher de Pedro I, que, aos 20 anos, deixou a Áustria para aportar no Brasil, às vésperas de o movimento emancipacionista ganhar força. Para eles, sua participação no episódio da independência foi, no mínimo, decisiva. Uma visão bem diferente daquela dos livros escolares, que a mostram sempre a princesa Leopoldina como uma espécie de “sombra” do imperador.
Pouca gente sabe que era Leopoldina quem ocupava a regência do Brasil colonial, quando Pedro I fez sua famosa viagem à província de São Paulo, em 1822, e que culminou com a proclamação da Independência no dia 7 de setembro. A princesa Leopoldina estava no comando do reino desde o dia 13 do mês anterior, oficialmente nomeada por decreto assinado pelo príncipe D. Pedro.
Se ainda causa espanto saber que uma mulher já dirigiu o Brasil, por quase um mês, na época do Império, ainda mais surpreendente é descobrir que Dona Leopoldina, despachava, isto é, resolvia os assuntos políticos, no lugar do marido.
Foi Leopoldina quem convocou em sessão extraordinária o ”Conselho de Estado” – formado pelos ministros e conselheiros do reino-, no dia 2 de setembro de 1822, no Paço da Boa Vista, no Rio de Janeiro. E, foi ela que decidiu, junto com os ministros, pela separação definitiva entre o Brasil e Portugal. Em outras palavras: a independência brasileira foi proclamada, no papel, pela princesa Leopoldina, cinco dias antes de Dom Pedro desembainhar a espada e dar seu famoso grito: “É tempo! Independência ou Morte”!
Em agosto de 1822, os brasileiros já estavam cientes de que Portugal pretendia chamar D. Pedro de volta, rebaixando o Brasil, de Reino Unido para voltar a ser uma simples colônia além-mar.
Com o aparecimento de uma guerra civil que pretendia separar a Província de São Paulo do resto do Brasil, D. Pedro passou o poder do reino no Brasil à Dona Leopoldina no dia 13 de Agosto de 1822, nomeando-a chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com todos os poderes legais para governar o país durante a sua ausência.
A Princesa Regente Leopoldina recebeu notícias que Portugal estava preparando uma ação militar de invasão contra o Brasil, e sem tempo para aguardar a chegada de D. Pedro, Leopoldina, aconselhada por José Bonifácio e usando de seus atributos de chefe interina do governo, reuniu-se na manhã de 2 de Setembro de 1822 com o Conselho de Estado, assinando o Decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal.
José Bonifácio convocou o oficial de sua confiança, Paulo Bregaro, para levar a sua carta e a de Leopoldina para D. Pedro, que estava em São Paulo. Paulo Bregaro encontrou-se com o Príncipe e a sua comitiva nas margens do riacho Ipiranga, no dia 7 de setembro. Das cartas, a mais enfática era de D. Leopoldina: “O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece”, escreveu ela. E, ao ler as cartas sobre os acontecidos, D. Pedro I, referendando a medida tomada pela Princesa Regente, proclamou a Independência do Brasil.
Enquanto se aguardava o retorno de Pedro, Leopoldina, governante interina de um Brasil já independente, idealizou a Bandeira do Brasil, em que misturou o verde da família Bragança com o amarelo-ouro da família Habsburgo.
Leopoldina Josefa Carolina Francisca Fernanda Beatriz de Habsburgo-Lorena, ou simplesmente Maria Leopoldina, como era chamada em terras brasileiras, nasceu em Viena, Áustria, em 1797. Foi arquiduquesa da Áustria, Imperatriz Consorte do Brasil e, durante oito dias, Rainha Consorte de Portugal. Era de excelente formação cultural. Falava francês, italiano, latim e estudava o inglês. Aprendia o português rapidamente. Pintava retratos e paisagens, e tocava piano com perfeição.
Ela desembarcou no porto do Rio de Janeiro com sua Corte, formada de médicos, zoólogos, botânicos e músicos. A eles devemos os primeiros estudos feitos sobre o Brasil, na área das ciências naturais. Deve-se, ainda, à Imperatriz Leopoldina a primeira floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca, existente na cidade do Rio de Janeiro.
Leopoldina morreu aos 29 anos, em 11 de dezembro de 1826, no Rio de Janeiro, mais brasileira do que nunca.
MEMÓRIA HISTÓRICA VIROU CINZA. Um incêndio de grandes proporções destruiu
o Museu Nacional, situado na Zona Norte do Rio, entre a noite de 02 e a manhã do dia 03/07/2018. Maior museu de história natural do Brasil, o local tinha um acervo de 20 milhões de itens históricos.
Em 2020, a Polícia Federal encerrou as investigações sobre a tragédia e afirmou que o incêndio não foi criminoso. As chamas foram iniciadas a partir de um curto-circuito causado pelo superaquecimento em um aparelho de ar-condicionado. Acredita-se que o fato ocorreu por falta de manutenção adequada e de investimentos no prédio.
Criado por D. João VI em 1818, o museu completou 200 anos em junho de 2018. Era a instituição científica mais antiga do país. Foi lá que a princesa Leopoldina, casada com D. Pedro I, assinou a Declaração de Independência do Brasil em 1822.
Anos depois, também foi palco para a primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891, que marcou o fim do Império no Brasil.