Ao divulgar institucional com o comandante da Polícia Militar, coronel Miramilton Goiano, falando que está tudo bem na segurança da população, o governo estadual apenas reforça que está satisfeito com a condução da instituição militar, mesmo que o comandante esteja sob investigação da Polícia Federal e Polícia Civil venha recebendo rejeição dentro e fora da Corporação, inclusive com críticas públicas.
Os fatos indicam que Miramilton é da mais alta confiança do governador Antonio Denarium. O anúncio da substituição no Comando da PM foi feito pelo governador nas redes sociais em fevereiro de 2023, quando o comandante era o coronel Francisco Xavier, que tentava minar forças de empresários do garimpo ilegal que agiam para cooptar PMs por meio da corrupção, conforme fontes do próprio Comando.
Mesmo que Xavier tenha sido importante no pleito que reelegeu Denarium, quando na reta final da campanha as ruas da Capital foram inundadas por viaturas e policiais, inclusive com investigação da PF sobre o uso da Corporação, sua postura de resistência à ingerência de empresários de garimpo foi decisiva para que Miramilton assumisse no seu lugar.
De lá para cá, os fatos se desenrolaram. O atual comandante da PM apareceu na denúncia sobre dois contratos que ele formalizou com a Prefeitura de Bonfim, sem licitação, para ministrar treinamentos de tiro para guardas municipais e compra de munição para os cursos, em 2021. Naquela época, Miramilton ainda era subcomandante da PM.
Depois, em abril deste ano, o nome do comandante da PM apareceu no caso do assassinato de um casal de agricultores, no Cantá, em que os dois foram executados covardemente a tiros em uma disputa por terras. Um dos que responde por esse crime é o capitão da PM Helton John da Silva de Souza, que à época era o responsável pela segurança do governador. No entanto, antes desses casos, o militar já vinha aparecendo nas investigações sobre participação de PMs no garimpo ilegal.
Tudo começou com a desastrosa ação criminosa de policiais, em setembro de 2022, que tentavam roubar uma aeronave que era usada para dar apoio ao garimpo, quando um PM morreu atingido pela asa do avião. Uma investigação da Polícia Civil apontou que um grupo de PMs cometia diversos crimes e atuava como milícia e oferecia serviço de vigilância privada para garimpeiros.
Testemunhas ouvidas durante o inquérito alegaram que o comandante da PM, Miramilton Goiano, tinha conhecimento dos fatos e até seria o responsável por fornecer munições, armas e coletes a prova de bala, bem como liberava policiais militares que estavam de serviço para que trabalhassem na segurança privada de garimpeiros.
A partir daí, foram desencadeadas as operações da PF, em outubro passado, que investiga um suposto esquema de venda ilegal de armas de fogo e munições. São investigados, além de Miramilton, seus dois filhos, suspeitos de venderem armas e munições para policiais penais, entre eles o deputado estadual Rárison Barbosa, o terceiro investigado, que por sua vez revenderiam para garimpeiros ilegais da Terra Indígena Yanomami.
Em investigações anteriores sobre uma facção criminosa com atuação dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, os nomes de Miramilton Goiano e o do filho dele, que é agente penitenciário, aparecem também. Os dois teriam feito três visitas consideradas irregulares ao detento Jonathan Novaes de Almeida, preso na Operação K’daai Maqsin, em 2019, que investigou uma organização criminoso responsável por vender armas e munições ilegalmente para garimpos e facções criminosas.
Apesar do desenrolar de todos os fatos e das investigações em curso pela Polícia Civil e Polícia Militar, o comandante da PM tem toda confiança por parte do alto escalão do governo. Enquanto isso, criminosos faccionados loteiam os bairros de Boa Vista e municípios do interior, com tiroteios frequentes no bairro 13 de Setembro, além de assassinatos, roubos e furtos nos bairros periféricos da Capital.
*Colunista
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