Na produção de obras literárias, a Inteligência Artificial (IA) começou a substituir os ilustradores ao gerar figuras supostamente artísticas em questão de segundos, reduzindo tempo e gastos. E já surgiram autores se orgulhando da rapidez encantadora que elimina o papel criador artístico dos humanos, como se essa ligeireza fosse uma nova e extraordinária arte.
É aí que começam as controvérsias, pois o que a IA faz (e muito bem) é copiar obras dos artistas que estão na grande rede e as transforma dentro de uma rapidez nada criativa. Algo parecido com o “efeito Sambô”, aquela banda brasileira que pegou o samba e misturou com diversos outros estilos musicais e saiu dizendo por aí que criou algo novo, quando a verdade é que o grupo apenas faz um cover do que já está consagrado na música.
O que a IA desenvolve está mais para um plágio na maior cara dura na frieza de uma máquina tecnológica. E isso está bem claro na forma em que a IA age para gerar uma suposta nova arte. Por exemplo, utilizar o Generative Adversarial Network (GANs), que é uma das técnicas mais famosas, nada mais é do que usar artes já existentes para criar algo que passou a ser chamado de “novo”.
Já os algoritmos de estilo de imagens permitem que uma pessoa use um ou mais estilos para modificar uma imagem existente, como se fosse um “filtro”. Por sua vez, os sistemas de classificação de imagens reconhecem as características de uma obra real para criar “novas imagens” baseadas nos dados que foram coletados. Ou seja, é aquela máxima: nada se cria, tudo se copia.
Traduzindo tudo isso, o que a IA faz ao produzir uma “arte” nada mais é do que um plágio disfarçado de algo novo, surrupiando obras artísticas, em um total desrespeito e desvalorização dos profissionais que atuam no meio artístico. E o pior é que já existem, mundo afora, casos de gente divulgando imagens geradas por IA como se fossem trabalhos autorais.
Mas essa discussão está apenas começando, pois já existem galerias e museus validando trabalhos feitos por IA. No entanto, o que está ocorrendo no campo de obras literárias escorrega pelo limbo da falta de ética quando não é citado que determinado trabalho é feito por Inteligência Artificial ou de forma híbrida. O que facilmente também pode descambar para o campo jurídico, pois obras poderiam ser desclassificadas dentro de um edital por plágio e por desrespeito aos direitos autorais.
Como a tecnologia é um caminho sem volta – e tudo está apenas começando – uma solução seria criar concursos de obras literárias com categoria específica para imagens e ilustrações feitas por IA, obviamente citando as referências utilizadas como base. Também é necessário combater veemente autores que tentam impor um trabalho feito por algoritmos como se fossem artes autorais; e aqueles que escondem o uso da IA em seus trabalhos, em uma desonestidade intelectual e atropelo à ética.
A discussão está aí. Mas isso não significa que a IA deve ser banida ou punida. As regras é que precisam ficar bem claras, respeitando direitos autorais e evitando a desonestidade intelectual. Afinal, o que a IA faz jamais será arte na concepção real da palavra, que é “a produção consciente de obras, formas ou objetos, voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana” (Houaiss).
*Colunista