Jessé Souza
Je suis Charlie 09 01 2015 482
‘Je suis Charlie’ Jessé Souza* Não é somente a França que está de luto. O mundo todo está de luto pela liberdade de expressão e de imprensa, que foi ultrajada com a execução de 12 pessoas no ataque de terroristas ao semanário satírico francês Charlie Hebdo, na quarta-feira. Está de luto o humor, que é a forma mais pura da crítica que incita o ser humano a despertar o senso crítico por meio do sorriso, ainda que de canto de boca. Não existe democracia sem imprensa livre e sem o humor crítico por meio dos traços das charges. A execução de pessoas por expressarem em desenhos a sátira ao sistema, seja ela qual for, é o maior grau do que risco que a liberdade de expressão e de imprensa sofre no mundo. Não são apenas os franceses que estão em risco. É a imprensa do mundo que foi ferida de morte pelo sangrento ataque ao Charlie. Por isso mesmo que o mundo não pode deixar de expressar sua indignação por meio da hashtag #JeSuisCharlie (#EuSouCharlie). A imprensa livre sempre esteve sob vigília dos extremistas. No Brasil não é diferente. Os jornalistas que lidam com o senso crítico e com a independência ideológica sempre correram o risco, senão de morte, mas de perseguições, processos judiciais, demissões e ameaças. Em Roraima, a situação já foi bem pior. O jornalista João Alencar é o grande exemplo. Morreu porque fazia um jornalismo crítico, na década de 80, misturado com humor ácido, quando os militares ainda mandavam neste pedaço de terra sem lei. Os jornalistas de Roraima não estão livres dos extremistas de toda sorte. As redações de jornais são vulneráveis naturalmente, porque elas são locais de recepcionar de pessoas. E criticar em Roraima ainda é um expediente que requer coragem, pois o poder está muito mais próximo das pessoas, as deixando também mais próximas de pressões. É por isso que devemos lembrar que nós, como sociedade livre e democrática, também precisamos nos sentir Charlie, pois o crime ocasionado por quem não aceita o livre pensamento e a livre forma de se expressar atinge em cheio a sociedade que preza pela democracia. E a imprensa é um desses sustentáculos da sociedade livre e democrática. Os poderosos de plantão não aceitam críticas sob qualquer hipótese e possuem os instrumentos para pressionar a imprensa e aqueles que precisam da liberdade de expressão como instrumento de trabalho. É por isso que hoje somos todos franceses de luto em busca da salvação de todas as liberdades, principalmente a de se expressar livremente. *Jornalista [email protected]