Jessé Souza

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À beira de uma terceira onda da pandemia, saúde vive os mesmos graves problemas

Jessé Souza*

Estamos avançando para uma terceira onda da pandemia, com o Brasil batendo o triste recorde de 2.997 mortes por coronavírus somente na quarta-feira (Roraima já acumula 1.692 mortos), mas somente na segunda-feira passada os órgãos fiscalizadores se reuniram e decidiram que vão intensificar a fiscalização na saúde pública estadual.

Essa fiscalização deveria ter sido efetiva, presencial e constante desde o início desse atual governo, quando o secretário de Saúde demissionário denunciou corrupção sistêmica, e reforçada ainda mais com o início da pandemia. Muita coisa teria sido evitada e muitas vidas salvas. Mas não foi o que ocorreu.

Nesta reunião, o secretário estadual de Saúde, Airton Cascavel, confirmou a falta de médico e de medicamentos, conforme a população vem denunciando. Alegou dificuldades e disse estar “aberto a diálogos”. Quando foi nomeado pelo governador Antonio Denarium (sem partido), a alegação era de que ele teria as ferramentas necessárias para rapidamente solucionar tais problemas, uma vez que ele tinha ligação direta com o Ministério da Saúde.

Mas a realidade indica que os mesmo problemas seguem, cuja tendência de amenizar esse quadro sombrio somente quando a população estiver vacinada, o que ainda demandará muito tempo. Até lá, ainda podemos presenciar uma terceira onda da Covid-19 e mais sofrimento para quem depende de cirurgias eletivas.

A leitora H.F.S. é um desses exemplos. Em mensagem enviada para esta coluna, ela narrou o seu drama para conseguir uma cirurgia no braço que foi fraturado em acidente de moto. Desde março deste ano, ela luta para ser cirurgiada, tempo este em que sua vida passou a ser de transtornos em seu cotidiano e problemas na sua saúde.

Quando finalmente conseguiu encaminhamento para o Hospital Geral de Roraima (HGR), com internação marcada para quarta-feira, 16, e a cirurgia agendada para o dia seguinte, nesta quinta-feira, 17, a triste notícia: a cirurgia havia sido desmarcada por falta de medicamento e material.

Além dos problemas enfrentados até aqui, a leitora relatou que gastou com exames laboratoriais e eletrocardiograma em clínicas particulares porque não é possível conseguir no setor público. Foi um dinheiro perdido e que irá fazer muita falta porque ela está desempregada. Mandada de volta para casa, disseram que era para retornar somente em 01 de julho para remarcar a cirurgia, seguindo o seu drama pessoal.

Trata-se de um caso em que a paciente pode esperar, apesar dos sérios transtornos em suas vidas. Mas a população tem reclamado do precário atendimento em toda as unidades, especialmente na maternidade, onde os relatos de sofrimento são constantes. Existem ainda relatos de falta de médico, medicamentos e insumos, além de leitos para pacientes da Covid-19.

Esses problemas são tão recorrentes que parecem “denúncias requentadas”. Mas trata-se da realidade diária de quem depende da saúde pública em Roraima, onde a corrupção sistêmica entranhou-se no âmago daquele setor, conforme vem apontando as investigações da Polícia Federal, e tudo diante da letargia dos órgãos fiscalizadores.

Passou da hora de o governador parar de dizer que “nada sabia” e começar a agir de verdade. Já que os órgão fiscalizadores decidiram que agora irão fiscalizar mais efetivamente, quem sabe Denarium também se junte a este “surto de fiscalização” e comece a combater os desmandos na saúde.

Nada dá mais para o cidadão aceitar as seguidas desculpas governamentais e de quem deveria fiscalizar. E tudo isso ocorrendo diante de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). A saúde virou caso de polícia há tempos e as autoridades agora precisam dar a resposta definitiva, principalmente porque a população está pagando com a vida.

*Colunista