Jessé Souza

Jesse Souza 11 03 2016 2139

Um defunto na sala de estar – Jessé Souza*

A morte de um invasor de terra em confronto com policiais militares e guardas municipais é para ser creditada na conta daqueles que incentivam e dão apoio a estas ocupações ilegais a áreas públicas e privadas. Trata-se de uma ação orquestrada por políticos, projeto de políticos e gente que ganha dinheiro explorando a indústria da invasão.

Que fique bem claro que existem pessoas, nessas ações de ocupação de terras, que realmente precisam de uma moradia. Porém, essas famílias de sem-teto acabam sendo usadas para interesses bem claros: cooptação de votos e especulação imobiliária por aqueles que ganham dinheiro com esses movimentos.

As eleições municipais se avizinham e já é possível ver pretensos candidatos ao cargo de vereador e até mesmo vereadores dando apoio a invasores. O apoio não fica só na promessa de regularização futura. Além de uns minguados recursos para alimento e transporte, esses financiadores põem à disposição inclusive advogados e bancam lideranças para que os representem e orientem.

Estava óbvio que algo poderia ocorrer diante dos intensos movimentos invasores que ressurgiram nesses primeiros meses do ano, em Boa Vista, com várias frentes se mobilizando. Certas dos apoios que têm e orientadas a resistirem como tática de ocupação, essas pessoas acabam por afrontar qualquer ação de reintegração a seus proprietários, seja particular ou governo.

Com essa morte que vinha sendo anunciada, é preciso que as autoridades passem a agir para frear a onda de invasão. Boa Vista não pode mais pagar caro por invasões que alimentam a corrupção eleitoral e que bancam a vida mansa de alguns, pois as ocupações irregulares produzem uma cidade sem planejamento urbano, o que provoca sérios transtornos para todos.

É preciso separar as famílias que precisam de moradia dos espertalhões, dos que são pagos para serem lideranças, dos cooptadores de voto, dos oportunistas e dos desocupados que se escoram em áreas de invasões para conseguir alguma coisa ou só mesmo para se aproveitar.

Também é preciso que as autoridades ajam com transparência nas ações de desocupação de áreas invadidas. Não se pode deixar que as pessoas humildes, manipuladas por toda sorte de aproveitadores, fiquem à mercê de qualquer ação errada ou excessiva dos agentes do Estado. No mínimo, essas ações obrigatoriamente precisam ser filmadas ou acompanhadas por órgãos fiscalizadores.

Enfim, não se pode mais ficar no achismo, análises e teorias. O problema existe, já produziu um defunto, a indústria da invasão é óbvia e os excessos policiais não são uma novidade. Então é hora de agir.

*Jornalista – Acesse: www.roraimadefato.com/main