Jessé Souza

JESSE SOUZA 11466

O campo está minado e a fogueira do cancelamento acesa

Jessé Souza*

Não se trata apenas de um problema de interpretação de texto. Sim, as redes sociais estão comprovando que há graves deficiências na educação formal, com a exposição de textos com erros corriqueiros e crassos de ortografia. Há, ainda, sérios atritos gerados por falta de interpretação de texto.

Mas não é só isso. Há um movimento fortíssimo alimentado por pessoas que estão entendendo muito bem a mensagem, sem qualquer problema de interpretação de texto. Porém, estas usam o artifício de deturpar propositadamente uma ideia com a finalidade de se apropriar dessa deturpação do contexto como instrumento de seus interesses políticos e ideológicos.

Não são apenas as fake news que estão criando um ambiente propício para gerar instabilidade política e social, mas esse movimento bem pensado de desconstruir um debate em favor de interesses escusos – ou nem tão escusos assim.

Dia desses, um médico local, que é ex-deputado e conceituado profissional médico em sua área, emitiu uma opinião em seu perfil criticando esse movimento de gente desqualificada se passando nas redes sociais como se especialista fosse na área médica e na ciência.

Foi o suficiente para que esse profissional passasse a ser duramente atacado e sua opinião desconstruída de uma forma que ele se parecesse um desqualificado qualquer, comparado ora a um arrogante, ora a um preconceituoso com outras classes e até mesmo como sendo um esquerdista (ou “esquerdopata”, como falam por aí).

É como se não fosse permitido divergir de um consenso de determinada bolha, nem criticar aquilo que é pernicioso dentro de uma sociedade que precisa debater seus problemas de forma séria a fim de extirpar o que pode representar um perigo para o bem coletivo.

Críticas estão sendo desconstruídas e deturpadas propositadamente não apenas para desqualificar aquela pessoa, mas também para criar um tribunal de inquisição ideológica capaz de lançar quem tem opinião própria na fogueira do cancelamento. Isso é muito perigoso para o conjunto da sociedade.

A crítica, que gera polêmica, é essencial para o amadurecimento da sociedade. Mas criticar não significa atacar e aviltar esta ou aquela pessoa por sua opinião. Polemizar não é autorização para massacrar e cancelar o divergente. Divergir não é campo livre para deturpar uma opinião com finalidade ideológica e partidária. Essa é a raiz do extremismo que estamos vivendo nos dias atuais.

Verdade que estamos enfrentando um momento delicado diante da deficiência da educação formal, especialmente nesses últimos tempos em que as escolas fecharam suas portas para o presencial. Mas não podemos esquecer que o holocausto foi implantado na Alemanha no tempo em que aquele país tinha o maior número de doutores e de pessoas com nível superior na Europa.

Não é a liberação de armas o maior perigo, e sim essas armas ideológicas da fogueira do cancelamento que está minando o conjunto de nossa sociedade e formando um campo minado, onde há um inteligente e orquestrado movimento da desconstrução em favor do mal.

Prestemos muita atenção nessa movimentação. O campo está minado de todos os lados, tanto para a direita quanto para a esquerda; principalmente nos extremos delas.

*Colunista