Da bolha à repugnância, assim está a saúde pública
Jessé Souza*
O oportunismo político chega a ser repugnante em certas ocasiões. Uma certa autoridade foi para a sua bolha virtual criticar a demora na conclusão das obras do Anexo E do Hospital Geral de Roraima (HGR) com a alegação de supostamente protestar devido ao momento crítico pelo qual passa o Estado.
No entanto, esta mesma autoridade, quando estava à frente do poder, sequer cumpriu com sua parte na saúde pública. Para piorar, no fim do ano passado, realizou uma série de eventos públicos que promoveram aglomerações e incentivou as pessoas a não respeitarem os mais básicos dos procedimentos de prevenção ao coronavírus.
Esses eventos poderiam muito bem não ter sido realizados, mas esta autoridade não levou em consideração o momento de pandemia porque, acima de tudo, ela precisava se promover politicamente diante de seus feitos já visando uma futura candidatura.
É fato que a questão da demora na conclusão das obras no HGR é uma aberração política, uma vez que os trabalhos já perduram por quase uma década, alcançando o terceiro governo. Mas o macaco não olha para o seu próprio rabo, apostando que as pessoas têm memória curta ou estão vazias de senso crítico.
Todos falharam. Todos. Prefeituras, Governo do Estado e Governo Federal. A saúde pública em Roraima estava entregue às baratas desde longas datas. Em Boa Vista, os postos de saúde eram um arremedo de atendimento, obrigando as pessoas a baterem à porta do HGR.
O HGR estava colapsado muito antes da crise migratória. O Hospital Coronel Mota sempre foi uma vergonha sem tamanho. Esse atual presidente chegou a cogitar acabar com o Sistema Único de Saúde (SUS), o que seria a pior desgraça que o brasileiro poderia vivenciar, caso esse atual governo tivesse tempo de desmantelar esse sistema.
Os políticos deveriam ter vergonha na cara pelo que não fizeram na saúde pública durante todo esse tempo pregresso e pelo que continuaram fazendo quando a pandemia chegou. Até dinheiro na cueca eles enfiaram. Um escândalo sem precedente.
A saúde pública foi (e continua sendo) usada como moeda eleitoral. Foi saqueada por seguidos grupos porque lá os cofres nunca secam e, quando secam, logo estarão cheios de novo por causa dos recursos obrigatórios destinados constitucionalmente a este setor. Assim também como fizeram e estão fazendo com a Educação.
É um disparate se aproveitar do momento para criticar quando, na verdade, os políticos deveriam estar fazendo uma autocrítica ou mesmo uma mea culpa. É repugnante como muitos agem. E mais repugnante ainda é ver que o povo não cria vergonha na cara na hora de votar.
Enquanto isso, as pessoas estão morrendo nos hospitais onde cada político tem sua parcela de culpa. Todos deveriam estar envergonhados, em vez de acharem que estão acima de qualquer crítica.
Essa vergonha não é nova. Já esqueceram das mortes dos bebês na maternidade? Das cirurgias canceladas no HGR por falta de material? Das quilométricas filas desde as primeiras horas da madrugada em frente do Hospital Coronel Mota? Dos postos de saúde que só atendem 30 pessoas por dia e onde sequer há médicos?
Envergonhem-se ao menos, senhoras e senhores políticos. Calem-se e vão consertar o que vocês estragaram. Já será um bom começo.
*Colunista
*Colunista