É criminoso o que os garimpeiros fizeram com o Rio Mucajaí
Jessé Souza*
Não tardou para se confirmar o que esta coluna já vinha alertando e que foi reforçado no artigo publicado no dia 26 de março passado, sob o título “O vil metal e as graves consequências para todos”, a respeito dos sérios danos provocados pelo garimpo ilegal, tanto para os povos indígenas quanto para a população em geral do Estado de Roraima.
Um vídeo que está circulando nos grupos de WhatsApp mostra a criminosa agressão ambiental ao Rio Mucajaí, o principal manancial de água potável de moradores do Município de Mucajaí, além de ser a única fonte de água potável e de pesca de ribeirinhos que moram ao longo daquele rio e dos seus afluentes.
As imagens são estarrecedoras e foram gravadas por um dos responsáveis pela ação criminosa. O leito do rio foi desviado para um canal a fim de que os garimpeiros pudessem fazer escavações no leito seco do rio em busca de ouro. O autor do vídeo narra o fato na naturalidade, como se aquela ação não houvesse nada demais.
O autor do vídeo orgulha-se de ter tranformado aquele trecho do volumoso Rio Mucajaí em um canal de 130 metros, o qual foi aberto por três pares de máquinas. E ele ainda confirma que agora os garimpeiros estão trabalhando onde era o leito do rio. As águas antes cristalinas e volumosas aparecem como se fosse uma lama pastosa, da cor de barro, totalmente poluído.
Esse fato merece uma urgente resposta não apenas dos órgãos ambientais em todos níveis de governo, mas também da Polícia Federal para identificar e responsabilizar os autores desse vergonho crime ambiental. Eles não podem ficar impunes pelo que fizeram e para que sirvam de exemplo a quem atua na garimpagem ilegal dentro e fora de terras indígenas.
Se providências energéticas e exemplares não forem tomadas agora, estaremos dando a mensagem de que tudo está permitido pelo garimpo ilegal, inclusive ferir de morte nossos principais rios que representam fonte de água potável e alimentação, lazer e turismo, além de importantes para a manutenção de nosso ecossistema.
Não se trata de um modismo de ativismo ambiental. Trata-se de nosso futuro imediato, quando podemos enfrentar uma grave crise hídrica e mudanças bruscas no ecossistema, o que representará grandes dificuldades para a subsistência de centenas de famílias ribeirinhas, além do fim de atividades como o turismo e o lazer da população roraimense.
Cenas semelhantes ou até piores que estas, registradas no Rio Mucajaí, repetem-se em outros rios, especialmente no meio da floresta, dentro das terras indígenas, as quais sofrem não apenas pelos danos ambientais, mas o risco da própria existência de populações indígenas largadas longe dos olhos da sociedade envolvente.
Esses rios alvos das severas degradações deságuam nos principais rios roraimenses, os quais já sofrem com os visíveis sinais de degradação que podem ser sentidos e vistos nas praias públicas na área urbana de Boa Vista e nos demais municípios banhados pelo Rio Branco.
Os danos ambientais podem decretar a extinção de populações indígenas e um futuro sombrio para toda sociedade roraimense, que pode sofrer principalmente com a falta de água potável, em um curto espaço de tempo, e com um passivo ambiental muito alto, o qual não se recupera facilmente.
O momento de agir é agora, já. Todos os sinais de alerta foram ultrapassados.
*Colunista