A ultrajante situação da Feira do Produtor que só piora com as chuvas
Jessé Souza*
As chuvas que vêm caindo em Boa Vista terminaram por complicar ainda mais a estrutura da Feira do Produtor, localizada na divisa de três bairros: São Vicente, Pricumã e Mecejana. O que já vinha funcionando de forma precária agora está em um nível insuportável.
As goteiras estão por toda parte no telhado, especialmente no setor onde estão instalados os restaurantes. Quem não tirou dinheiro do próprio bolso para trocar telhas ou fazer uma manutenção na cobertura está sofrendo os mais duros transtornos, inclusive afugentando os poucos clientes que ainda resistem por lá.
Situação pior está um dos quiosques que está afundando por problemas na fundação do prédio, o que provoca rachaduras inclusive no telhado que ameaça desabar. O boxe só não ruiu de vez sobre as pessoas porque a concessionária mandou instalar uma coluna de sustentação e uma peça no teto.
Os problemas não param por aí. Como não há drenagem interna entre os blocos e nas vias internas de acesso, o local fica debaixo d’água quando chove, transformando a área interna em uma imensa lagoa. Situação pior está no setor de barracas onde estão instalados vendedores de roupas e bugigangas, pois os quiosques são improvisados e não seguem o padrão da estrutura do local. Uma verdadeira favela.
Antes de o inverno começar, enormes crateras já complicavam o tráfego de veículos e trânsito de pessoas. Uma vergonha para um governo que prioriza somente os grandes produtores e esquece os pequenos até mesmo onde deveria ser uma vitrine, devido ao grande número de pessoas que circulam por lá diariamente.
Para complicar, na semana passada, a Roraima Energia cortou a luz do bloco dos restaurantes. O motivo foi porque o fornecimento de energia estava sendo feito por uma ligação clandestina, popularmente chamada de “gato”, há três anos, apesar de a administração da feira ter sido avisada ao longo desses anos para regularizar o serviço. Os vendedores passaram três dias com a energia cortada, sofrendo prejuízos e humilhação.
É preciso também que se explique onde está indo parar o dinheiro recolhido. Cada um dos 350 vendedores paga uma taxa que varia de R$10,00 a R$20,00 por semana. Fazendo as contas com base numa média de R$15,00, a administração recolheria R$5.250,00 em dinheiro vivo toda a semana, o qual não se vê aplicado para manutenção básica do espaço, que está com sua estrutura deteriorada há muito tempo.
Outro fato que surpreende é que a Feira do Produtor passou por uma reforma realizada pelo finado governo de Suely Campos, há cerca de quatro anos. Naquela época, os vendedores comeram o pão que o diabo amassou, quando foram transferidos para a Feira do Passarão por um período de um ano (O Passarão é outro local que passa por um tormento à espera da reforma em sua estrutura). Esses vendedores só não passaram fome porque foram atrás de outra forma de ganhar dinheiro.
Quando os feirantes foram levados de volta para a Feira do Produtor, eles perceberam que a obra de reforma não passava de um engodo, do tipo daqueles serviços em que ocorre somente uma maquiagem para justificar o dinheiro pago para a empreiteira. A consequência disso é que, pouco tempo depois, hoje a feira está em condições ultrajantes.
Não bastassem o sofrimento dos vendedores e o tratamento vergonhoso à clientela devido à estrutura física, o entorno da Feira do Produtor se tornou uma imensa favela, formada por bares, ambulantes de toda espécie e abrigo para venezuelanos sem-teto e também para vagabundos (que ninguém esqueça que por ali surgiu inclusive um ponto de venda de droga, com o recente assassinato de dois venezuelanos).
Evidente que por ali existem pais e mães de famílias trabalhando, além de outras pessoas dignas em busca do sustento, mas a ausência do poder público permitiu a favelização daquele espaço, o qual também passou a ser ocupado por quem não deveria estar ali, especialmente os que têm envolvimento em crimes.
Se dentro da Feira do Produtor, onde há uma administração, o cenário visivelmente denuncia um local abandonado pelo poder público, imagine em seu entorno, onde a organização não é um critério. Já passou da hora de alguém tomar alguma providência, já que o governo está muito ocupado com o agronegócio e não tem tempo para organizar um local digno destinado a pequenos produtores venderem seus produtos.
Que tal a visita das autoridades àquela feira, inclusive dos órgãos fiscalizadores, em um dia de chuva? Feito o desafio. Não precisa ser uma chuva forte, não.
*Colunista