De madeira a garimpo, um passeio que chama o cidadão à realidade
Jessé Souza*
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acabou por confirmar que quatro senadores e três deputados federais atuaram para que fosse liberada a madeira apreendida durante a Operação Handroanthus, desencadeada pela Polícia Federal, no Amazonas, totalizando 226 mil metros cúbicos, carregamento avaliado em R$129 milhoes!
Significa que sete parlamentares federais foram interceder para que fosse liberado um carregamento ilegal de madeiras apreendidas pela PF do Amazonas. Os empresários madeireiros envolvidos no episódio são do Estado de Santa Catarina, mas atuam há décadas no Estado do Pará na extração de madeira.
Então, por este motivo, os primeiros parlamentares a intercederem para a liberação da madeira ilegal foram o senador Jorginho Mello e a deputada Caroline de Toni, ambos do PSL de Santa Catarina. Conforme o ministro, em seguida o procuraram o senador Telmário Mota, do Pros de Roraima, que obviamente é eleito para tratar dos interesses dos roraimenses.
Em uma terceira rodada, o ministro disse que foi procurado pelo senador Zequinha Marinho, do PSC do Pará, onde estão sediados os madeireiros, e também pelo senador Mecias de Jesus, do Republicanos de Roraima, outro eleito para ser o defensor dos roraimenses.
O fato é que, com toda essa pressão em favor dos madeireiros e contra a operação policial, o delegado que comandava a PF do Amazonas, responsável pela operação, Alexandre Saraiva, foi demitido do cargo. A demissão correu depois que ele formalizou uma denúncia-crime contra os ministro Salles e Telmário Mota, acusados de atrapalharem das ações da PF contra a extração ilegal de madeiras no Amazonas.
O caso foi parar na mídia e os fatos falam por si só. Vivemos em um momento conturbado, sequência de quando o eleitor roraimense decidiu despachar o então senador Romero Jucá (MDB), que na época vivia sendo apontado na mídia nacional com detentor do título de campeão de processos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas não foi suficiente para que parlamentares roraimenses parassem de ser notícia ruim na mídia nacional. Não custa lembrar que o senador Chico Rodrigues (DEM) é alvo de investigação pela PF, cuja operação desencadeada em Boa Vista ficou mundialmente conhecida como o “caso do dinheiro na cueca”.
Depois, o mesmo parlamentar foi citado em outro episódio, no caso da apreensão de uma aeronave de sua propriedade que dava apoio a um garimpo ilegal na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o mesmo garimpo sobre o qual ele gravou um vídeo elogiando a atuação dos garimpeiros no local da garimpagem.
Tudo isso dentro de um cenário envolvendo nossos parlamentares federais. Mas acabamos de ser bombardeados com notícias de um vereador de Boa Vista alvo de uma operação da PF que investiga compra de voto, contra o qual já desenrola outro processo por desvio de recursos destinados a compra de alimentos para presos. O caso do vereador Kleber Siqueira também foi parar na mídia nacional.
Se for puxar o fio de fatos anteriores a estes, não haverá espaço que caiba tanto assunto desta natureza. Mas os episódios assinalados acima servem para ilustrar o momento de indignação que vivemos na política local. O eleitor roraimense precisa acordar de sua letargia, da qual também tem sua parcela de culpa.
De madeireiras e garimpo ilegais o Estado de Roraima tem sido terra fértil, para os quais não faltam apoiadores. Falta, agora, quem realmente queira ajudar a população nos seus desafios mais urgentes. E se o cidadão continuar repetindo seus erros nas suas escolhas, continuará pagando caro por esse erro ou omissão.
*Colunista