Outra mudança na Saúde que começa com um bate-boca palaciano
Jessé Souza*
A oitava substituição de secretário estadual de Saúde, confirmada ontem pelo governador Antonio Denarium (sem partido), é o indicativo de que estamos longe de solucionar os mais graves problemas na saúde pública roraimense, sempre submetida a um cabresto político do coronelato da vez que chega ao poder. Com este governo fatiado politicamente em nome da governabilidade, a troca de comando é apenas um dos reflexos.
Não há como consertar um setor que é usado para satisfazer aliados, acomodar a base política e como moeda de troca para viabilizar candidaturas, inclusive como foi feito na administração anterior. Fora que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) foi utilizada também como palanque que já elegeu parlamentares, de deputado federal a senador, em um passado não distante.
O novo/velho secretário de Saúde, Airton Antônio Soligo “Cascavel”, já desfila pela política partidária desde a instituição do Estado, no final da década de 1880 e início da de 1990. Depois de ser prefeito de Mucajaí em 1988, ao chegar a Roraima como funcionário de uma empresa de ônibus paranaense do qual herdou o apelido (União Cascavel de Transporte e Turismo – Eucatur), conseguiu eleger-se deputado estadual constituinte, a partir de quando chegou a ser deputado federal e vice-governador.
Recentemente, por influência política, Cascavel conseguiu ser galgado a assessor do pior ministro de Saúde que o Brasil já teve, Eduardo Pazuello, escalado para cumprir a política do atual governo do negacionismo da vacina e do boicote a um plano imediato de vacinação em massa da população, o que poderia ter salvado muitas das 400 mil vidas perdidas até aqui pela Covid-19. Foi nas mãos desta gestão que o país viveu a falta de oxigênio para os pacientes.
O que pode ser analisado, como ponto a ser destacado, é que Cascavel já sabe O QUE NÃO FAZER e o que não deu certo no Ministério da Saúde, que não fez a lição mais básica que era negociar o mais cedo possível a aquisição de vacinas e trabalhar um plano nacional de vacinação em massa, além de uma logística que sequer funcionou na questão do oxigênio em Manaus (AM).
Porque do ponto de vista político, o que o governador está demonstrando é que até hoje não conseguiu ajustar o setor de saúde, nem acertou sua base aliada, entrando para a oitava substituição do titular da pasta, optando por um secretário que vem da velha política e que esteve na execução de uma gestão que deu errado no Ministério da Saúde.
O argumento é o de que Cascavel irá aproximar a saúde estadual das ações do Ministério da Saúde, numa espécie de “abre-portas”, uma vez que o novo secretário agora conhece bem os corredores palacianos. Neste caso, Roraima teria que apostar que o Ministério da Saúde realmente tenha melhorado e dado uma guinada para fora da política de governo negacionista, cujo presidente se nega inclusive a usar máscara.
Se existe algum alento, pelo menos o governo já vem sendo acossado por uma CPI da Covid-19, que o obriga a deixar a linha negacionista antivacina. Porque se o Estado de Roraima for seguir a política nacional que faz corpo mole no combate à pandemia, então é melhor que os roraimenses se preparem para uma terceira onda do coronavírus. E olha que Roraima chegou a avançar autorizando a compras de vacinas pelo Estado.
Mas os acontecimentos que acompanham essa mudança na Sesau não trazem bons ventos, uma vez que a coletiva de imprensa convocada para anunciar o novo-velho secretário, na manhã de ontem, dentro do Palácio Senador Hélio Campos, foi chacoalhada pelo bate-boca entre parlamentares do mesmo partido e aliados do governo (episódio este que nada tem a ver com a troca de secretário, em tese), cujo vídeo sobre a arenga termina exatamente com essas palavras por uma das partes envolvidas: “… Ladrão, vagabundo…”.
Tem que ter a alma muito voltada a um pensamento positivo para acreditar em melhorias nesse Estado…
*Colunista