A cidade precisa descer do mirante para encarar seus problemas
Jessé Souza*
Pelo que se desenha em Boa Vista, o prefeito Arthur Henrique (MDB) estará mesmo conformado em ter sido tão somente uma sombra de seus criadores, a ex-prefeita Teresa Surita e do ex-senador Romero Jucá (ambos do MDB), para se tornar um prefeito sem muitas aspirações, limitando-se a fazer o que os mestres ordenarem ou o que for possível dentro do que lhe é permitido.
Ao nomear Teresa Surita como consultora-geral da Prefeitura de Boa Vista, o prefeito confirma essa missão que lhe foi conferida, tornando-se um refém político do que está arquitetado para ele. Tal cargo não representa apenas uma forma de a ex-prefeita estar perto das decisões a serem tomadas, mas também uma maneira de garantir-lhe condições para suas aspirações políticas imediatas.
Usando do cargo, Teresa presenteou o Município de Mucajaí com entrega de luminárias e equipamentos para a Guarda Municipal daquela cidade, para ter em troca o convite para percorrer vicinais e assentamentos daquele município, levada a tiracolo pelas lideranças locais. O flagrante desconhecimento dos locais que iria visitar pôde ser vista no vídeo que ela gravou, quando sequer conseguiu pronunciar o nome das regiões aonde iria pôs os pés pela primeira vez, como parte de seus planos políticos.
Já que Teresa decidiu agora percorrer municípios do interior, por onde seus pés nunca sentiram poeira e lama, seria de bom alvitre que ela entregasse esse cargo para quem realmente possa estar presente na Capital. Afinal, Boa Vista tem grandes desafios que devem começar a ser superados imediatamente, a exemplo da mobilidade urbana, especialmente no que diz respeito a evitar o caos no trânsito em um futuro bem próximo.
Se vai priorizar suas pretensões partidárias, então que assuma suas consequências com seus próprios meios. Porque Boa Vista não está essa maravilha pregada a partir da visão do Mirante do Parque do Rio Branco, onde o prefeito inclusive levou toda sua família para passear no dia que ele abriu o local para a visitação apenas para servidores municipais. Há grandes desafios que são urgentes. Porque de praças e de mirante a população já está bem servida.
Agora a cidade precisa avançar nas estruturas realmente necessárias, pois já estamos bem servidos de locais aonde ir para passear e apreciar o belo. Agora são necessárias estruturas que possam garantir o bem-estar das famílias, para que tudo isso não se transforme em pesadelo, a exemplo de ter um trânsito organizado, saúde capaz de fazer frente a qualquer pandemia ou endemia, drenagem e asfalto nos bairros mais afastados, além de outras estruturas que sequer chegaram à zona rural, onde estão áreas indígenas.
A impressão que se tem é a de que a atual administração vai ficar congelada dentro das peças publicitárias de uma cidade bonita, com suas flores e praças, como se não houvesse mais nada a fazer, a não ser ficar olhando a cidade lá de cima do mirante. Enquanto os grandes problemas a serem resolvidos vão sendo adiados mediante a promessa de que a estrutura que a cidade precisa só virá quando as chaves da Prefeitura e do Governo do Estado estiverem nas mesmas mãos.
Esse filme o roraimense já conhece muito bem…
*Colunista