A paranoia como instrumento político para deixar o povo vivendo sob o medo
Jessé Souza*
A questão do meio ambiente é a principal bandeira dos teóricos do pânico que pregam uma grande armação mundial para tomar o Brasil de assalto. O Estado de Roraima foi um grande experimento neste sentido, quando tínhamos um governo populista, implantado aqui pelo hoje falecido Ottomar Pinto, no início da década de 1980.
Vale ressaltar que governo populista (especialmente os que têm viés fascista) costuma se valer do pânico para alcançar seus objetivos e deixar o povo sempre sobressaltado. Submetido ao medo, é mais fácil com que as pessoas passem a cultuar aqueles que se colocam como a solução para os problemas que eles mesmos criam.
A partir da década de 1990, o povo roraimense foi submetido a uma ostensiva campanha do medo por meio da paranoia da internacionalização da Amazônia, discurso este que foi sendo abandonado na medida em que os fatos foram se desenrolando, especialmente com a chegada da internet, e quando os pregadores do medo foram sendo eleitos, os quais buscam outros modos de alienação.
A paranoia tinha como bandeira do pânico a demarcação das terras indígenas e a defesa do meio ambiente. Defender os povos indígenas e o meio ambiente, naquele momento, era como se fosse um “traidor da pátria” ou “vendilhão do Brasil para os Estados Unidos”. E assim tudo foi se encaminhando para uma guerra ideológica que acabou para uma guerra de enfrentamentos entre índios e não índios; ou melhor, da sociedade envolvente contra indígenas e seus defensores.
Na atual conjuntura, é possível notar que, em nível nacional, está em execução uma campanha do medo que abriga todos os pesadelos e medos na cabeça do cidadão que foi habituado a viver no sobressalto, não apenas com medo do desemprego, do desamparo, da violência; mas agora com medo do “comunismo”, que pode ter um leque bem amplo de pânico incluído: meio ambiente, distribuição de renda, pesquisas científicas, vacina, ensino superior…
A internet possibilitou que mais pessoas tivessem condições de ter acesso a informações fora da velha mídia e das bolhas das quais estávamos presos pelo analógico. Mas não tardou para os malfeitos disfarçados de bons políticos logo descobrissem um novo instrumento do pânico: as fake news, que nada mais são do que notícias falsas disseminadas para confundir, manipular e aterrorizar as pessoas para que vivam sob o medo constante.
Essa tática funciona muito bem e foi testada originalmente, ainda sem internet, apenas com a TV Globo, com o grande mito Fernando Collor de Melo, que surgiu como o “caçador de marajás” que iria moralizar o Brasil e combater o comunismo-lulismo-petismo (naquela época não havia esses termos). Ele se apropriou das cores de nossos símbolos nacionais como parte de seu projeto.
O populismo de Collor ia sendo construído com passeios de motos de alta cilindrada, bicicleta, jet ski e lanchas, sempre com grande arrebanhamento de pessoas em aparições públicas com se fosse um pop star (sentiu o cheiro de algo assim na atualidade?!). Ao enrolar-se nas suas próprias teias e redes de esquemas, teve que renunciar para não sofrer impeachment (de novo aquela sensação).
O cidadão da atualidade não pode ficar paralisado pelo medo, tanto aquele pregado pela direita nem pela esquerda. O medo, na verdade, não é apenas uma tática, mas um instrumento poderoso de manipulação. Tanto é que o negacionismo nada mais é do que o medo agindo em nossa mente colocada a teste: “vou virar jacaré?”
Os políticos mal intencionados sobrevivem do medo das pessoas e se procriam, como fórmula para enraizarem-se no poder. É preciso superar as paranoias criadas pela campanha ostensiva do medo sob o risco de essa guerra ideológica passar para o campo do enfrentamento aberto no meio da rua…
*Colunista