Uma educação caindo aos pedaços há pelo menos três décadas
Jessé Souza*
É estarrecedor ir às comunidades indígenas e ver a situação da maioria das escolas públicas, tanto as estaduais quanto as municipais. Quase a totalidade está há décadas sem receber qualquer reforma ou ampliação em sua estrutura física. Em vários locais, o que existem são escolas construídas pelas próprias comunidades, de forma improvisada, sem o mínimo de conforto.
Há aquelas estaduais que foram construídas ainda pelo então governador Ottomar Pinto, já falecido, as quais jamais receberam qualquer outro tipo de obra ao longo dos anos. Para piorar, o prédio dessas unidades servem para abrigar, de forma improvisada, o posto de saúde em outra sala que deveria ser apenas para os estudantes.
Existem prédios onde a escola tem que dividir espaço com posto de saúde, clube de mães e cozinha comunitária. Essas escolas também não têm banheiro adequado nem suficiente em quantidade, muito menos bebedouros e lugar para preparar a merenda escolar. Também há localidades onde os alunos precisam fazer suas necessidades literalmente no mato.
Cerca de 50 dessas escolas vão começar a receber obras de reforma e ampliação, além de compra de mobílias, pela primeira vez em toda sua existência. E isso graças às emendas parlamentares da deputada indígena Joenia Wapichana (REDE) as quais foram direcionadas para a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed).
A situação é tão complicada que, em várias localidades, a reforma nem a ampliação irão resolver o problema, pois estas precisariam mesmo é de uma construção de um prédio novo para poder atender ao número de alunos com a qualidade de uma educação gratuita e de boa qualidade, conforme determina a Constitutição.
As comunidades que nunca tiveram uma escola construída pelo poder público fazem como podem, construindo barracões de taipa coberta de palha, improvisando sala de aula debaixo de árvores ou onde for possível fugir do sol, da chuva e do calor.
Só aí dá para sentir que, verdadeiramente, não há preocupação da maioria dos políticos com a situação das comunidades indígenas. Há um ou outro parlamentar que dereciona emendas para alguma atividade, mas jamais isso ocorreu para garantir uma educação de qualidade, ao menos com um prédio com estrutura, mesmo sabendo que a educação seja fundamental para o desenvolvimento de nossa sociedade.
No campo pedagógico os problemas também são vergonhosos, pois geralmente as escolas possuem um único profissional, que passa a ser o gestor, o professor, o merendeiro, o faxineiro e o que tira o dinheiro do próprio bolso para comprar alimentos para a merenda, material pedagógico e até para pequenas reformas para o prédio da escola não cair na cabeça dos alunos.
São décadas de descaso que apenas revelam a verdadeira face de nossos políticos e governantes com relação à educação das comunidades indígenas. Nas escolas municipais em áreas indígenas a situação não é diferente. Algumas vezes chega a ser pior. Em alguns locais, as aulas da educação infantil sequer foram iniciada.
Enquanto os problemas se acumulam, os órgãos fiscalizadores nunca conseguem chegar a estas localidades para saber o que está ocorrendo. Na verdade, nem mesmo o transporte escolar chega, muitas vezes. E o Governo do Estado, bem como as prefeituras, fazem vistas grossas, pois muitos políticos sempre apostam que, na hora do voto, podem manipuilar, mentir, fingir e ou até mesmo comprar.
*Colunista