Se não houver mobilidade urbana, em pouco tempo seremos uma cidade infeliz
Jessé Souza*
O movimento para se criar o serviço de moto táxi na Capital roraimense é somente mais um capítulo da falta de investimento por parte da Prefeitura de Boa Vista para garantir um serviço eficiente de transporte público. Trata-se da consequência de um projeto de mobilidade urbana que não passou de um fiasco, que serviu para construir duas pontes e reformar a principal avenida de acesso ao bairro Cidade Satélite.
Por coincidência, o Satélite é o bairro onde mora a ex-prefeita Teresa Surita, que quando era prefeita de tudo fez para que a mobilidade urbana se concentrasse na costrução das duas pontes interligando aquele bairro aos bairros Jardim Caranã e Silvio Leite. Não se sabe o motivo, mas essas pontes foram construídas inicialmente com uma dimensão de apenas um via, o que obrigou a realizar novas obras para duplicá-las, necessitando de mais recursos.
Foram R$65 milhões gastos com esse projeto de mobilidade urbana, recurso oriundo de um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal, que incluiu ainda a duplicação da Avenida Carlos Pereira de Melo, que é a principal via de acesso ao bairro Cidade Satélite. Ou seja, no bairro onde mora a ex-prefeita não há mais problemas de mobilidade. Mas na cidade em geral…
Historicamente, quando Boa Vista se resumia a poucos bairros, o transporte coletivo feito por ônibus já não conseguia garantir um bom serviço à população. A Capital cresceu e continua inchando com a chegada constante de imigrantes venezuelanos, mas o transporte público segue ineficiente e precarizado. O transporte público deveria ser uma das principais preocupações com a mobilildade urbana.
Transporte coletivo é o fator principal não só para garantir mobilidade para quem não tem condução própria, mas também possibilitar que mais pessoas sejam desencorajadas a andar de moto, bicicleta e carro nas ruas já congestionandas de Boa Vista. Nem que para isso o Município tenha que subsidiar as empresas para ampliar e melhorar o serviço.
Mas, do jeito que está, há uma grande confusão insustentável, pois surgiram vários pontos de estrangulamento no trânsito, inclusive riscos de acidentes onde faltam semáforos, e mais trabalhadores querendo adquirir um transporte, principalmente financiados (endividando a população) para fugir da deficiência dos ônibus e táxi-lotação.
Com o táxi-lotação sem controle, escolhendo onde levar o passegeiro e onde não fazer rotas, quem mora nos bairros mais asfaltados enfrenta os piores transtornos para se locomover. Nesse vácuo e confusão, já surgiu táxi-lotação clandestino, cujos motoristas se disfarsam de “uber” para pegar passageiros desesperados nos pontos de ônibus ou esperando lotação que nunca passa.
Como não se tem um projeto de mobilidade verdade, a chegada do moto táxi só irá engrossar o caldo dessa confusão, pois alimentará não apenas a ação de clandestinos, mas também ampliará o caos no já conturbado trânsito de Boa Vista, onde falta o básico, como semáforos, além de passarelas para pedestres, viadutos e outras melhorias na engenharia para melhorar o tráfego de ruas e avenidas onde há confusão generallizada em horários de pico.
Enquanto isso, a ex-prefeita está morando em seu bairro onde o projeto de mobildade mantido se concentrou. Se persistirem os graves problemas no transporte público e na infraestrutura do trânsito da Capital, em pouco tempo teremos uma cidade insuportável para se viver, onde suas praças e seus jardins não compensarão o sofrimento que cada cidadão terá diariamente no trânsito para trabalhar, levar o filho na escola, fazer compras e até mesmo passear.
Seremos uma cidade infeliz para se locomover, que é uma necessidade básica do cidadão.
*Colunista