Jessé Souza

JESSE SOUZA 12146

O Brasil do bandido Lázaro é o mesmo das desgraças em todo o país

Jessé Souza*

Precisou um bandido de alta periculosidade sozinho desafiar as forças policiais de Goiás e do Distrito Federal para que o Brasil começasse a ter noção da fragilidade do nosso sistema de segurança pública, que há tempos vem perdendo para as facções criminosas em todo o país.

Em vez de protestos da sociedade e consternação das famílias brasileiras, o assassino Lázaro Barbosa virou meme, como tudo o que ocorre no Brasil. Tornou-se um uma celebridade mórbida a chamar os cidadãos sérios desse país à realidade. Aliás, temos um meme como presidente que se tornou mito.

O despreparo do país na segurança pública já vem sendo exibido dentro da Terra Indígena Yanomami, onde milícias de garimpeiros já desafiariam o Exército e a Polícia Federal, inclusive trocando tiros com os policiais, e há quase um mês vem promovendo seguidos ataques a comunidades indígenas às margens do Rio Uraricuera, com tiros e gás lacrimogênicos.

Como se tratam de populações indígenas, este gravíssimo caso não ganhou nenhuma repercussão nacional, muito menos virou meme, apesar de os milicianos garimpeiros estarem humilhando as forças de segurança nacional, inclusive servindo de chacota para o governo brasileiro, que conta com um poderoso Sistema de Vigilância da Amazônia.

Enquanto um bandido sozinho desafia, entre matas e rios, as forças do Brasil central, milhares de garimpeiros, que poderiam ser enxergados facilmente pelo Exército, caso houvesse vontade política, desafiam todas as forças nacionais no Norte brasileiro, no meio da floresta amazônica.

Embora esses garimpeiros estejam cometendo crimes, eles dão entrevista na imprensa local como se fossem apenas “trabalhadores desempregados”, em vez de serem chamados à responsabilidade por seus atos. Também deixam rastros e estragos que podem ser observados por qualquer aeronave ou drone, mas seguem solenemente impunes.

O caso Lázaro tornou-se um circo midiático, em que políticos empunham armamento pesado somente para aparecer na mídia, além de servir de fundo de mensagens de religiosos fanáticos. Enquanto isso, na Amazônia, os povos Yanomami sequer conseguem espaço na mídia para cobrar Justiça ou relatar seu drama. Precisaram seguir para Brasília, se quiseram ser ouvidos nacionalmente.

Ainda assim, o governo brasileiro e o Congresso Nacional não estão dispostos sequer a ouvir seus lamentos e sensibilizarem-se com seus protestos em Brasília. Além de cegos e surgos para esse crime na Terra Indígena Yanomami, a Câmara Federal se prepara para apreciar, na manhã desta terça-feira, mais um atentado contra os povos indígenas, o Projeto de Lei 490, que acaba com novas demarcações de terras indígenas no País.

O PL 490 é o golpe fatal contra as populações indígenas, já ameaçadas de genocídio pelo avanço do garimpo ilegal, que é defendido por políticos e pelo governo brasileiro. O projeto irá abrir as terras indígenas para o agronegócio, impedirá demarcações, facilitará licenças ambientais e permitirá a legalização do garimpo.

Enquanto tudo isso ocorre, as forças que destroem o Brasil desviam a atenção da opinião pública brasileira para o caso de um bandido que tem saído ileso diante da falência da segurança pública brasileira. Não é à toa que o crime organizado avança e a criminalidade não consegue ser freada no país.

O Brasil do bandido Lázaro também é o Brasil do crime organizado, das milícias nas favelas, dos garimpeiros milicianos nas terras indígenas, das facções que tomaram conta dos presídios e que dão ordens nas periferiais brasileiras, a exemplo do que ocorreu recentemente em Manaus (AM) e da grande chacina que ocorreu em 2017 no maior presídio de Roraima, que deixou 31 mortos.

Diante de tudo isso ocorre, o maior projeto em andamento é o da chacina ao povo brasileiro por falta de vacina contra o coronavírus, a qual chegou com um ano de atraso. O número de mortos já ultrapassa 500 mil.

*Colunista