Jessé Souza

JESSE SOUZA 12251

Os limites sendo quebrados e o caso Sikêra Jr em questão Jessé Souza*

O Brasil passou por uma eleição presidencial que significou o fortalecimento do “politicamente incorreto”, em que falar palavrões acabou por se tornar um “novo normal”, inclusive com a reprodução literal de frases pela imprensa antes impublicáveis diante do “politicamento correto” e pela linha editorial que mantinha o respeito às pessoas que não são obrigadas a ler palavrões.

Então, ser rude e desbocado passou a ser tratado como “sinceridade” ou “ser direto”, em uma sociedade que já cultuava a ignorância de forma velada e muita vezes não tão oculta assim, como tornar uma lenda o “Seu Nunca”, considerado o brasileiro mais ignorante de todos os tempos. Faltava apenas um incentivo para tirar tudo isso do armário.

E o sinal verde para ser rude foi muito além do culto à ignorância, em que ser inculto ganhou nova roupagem, tirando do armário e das cavernas escuras os homofóbicos, os racistas, os preconceituosos e os que não têm o menor préstimo pela democracia, muito menos por respeitar o próximo. A expressão máxima de quem se sentiu à vontade para ir muito além do “politicamente incorreto” foi o surgimento do apresentador televisivo Sikêra Jr. Antes de ser famoso no país, ele já havia se tornado meme nas redes sociais e grupos de WhatsApp, sempre atacando “maconheiro”, que eram classificados como “homessexuais”, e com mensagens “politicamente incorretas”.

O momento foi propício para Sikêra tornar-se uma celebridade exatamente no país do “novo normal do politicamente incorreto”. A aceitação foi tanta que ele se sentiu à vontade para extrapolar sua liberdade de expressão, deixando o papel de enaltecer o “politicamente incorreto” para passar a fazer explícitas propagandas e ataques de ódio contra quem ele elegia como alvo de seus  sentimentos negativos, discriminatórios ou preconceituosos.

A potência máxima desse comportamento foi chamar os homessexuais de “raça desgraçada”, ao vivo, no programa de TV, ultrapassando qualquer limite que poderia existir entre liberdade de expressão e homofobia explícita, bem como alimentando a campanha de ódio em parte da população que está sendo alimentada por meio de uma campanha contra minorias ou quem tem um pensamento crítico diante da realidade política atual.

Não se trata mais de “quem fala o que quer ouve o que não quer”. Nem de ser “sincero” ou “direto”. Trata-se de usar um veículo de comunicação de massa para alimentar uma campanha de ódio contra homossexuais ou em favor de práticas odiosas. Tudo isso alimentado e incetivado pelo comportamento de não respeitar mais a liturgia de um cargo pautada pela diplomacia, educação e até mesmo empatia por quem pensa diferente, que é diferente ou que não votou naquele determinado candidato.

Estão sendo ultrapassados todos os limites, a exemplo o da liberdade de expressão e o de respeitar as minorias, que por sua vez acaba por alimentar também a quebra do limite maior, patrocinando um levante contra a democracia e suas instituições, inclusive contra uma imprensa livre, que é imprescindível para fazar a democracia respirar.

Os veículos de comunicação têm um papel importante dentro de uma sociedade justa e democrática, potanto, jamais podem ser usados para outros fins que não o de defender a sociedade e manter intacto todos os seus instrumentos em favor da coletividade. Esse é o grande perigo que representou a postura do apresentador Sikêra Junior.

O ponto positivo é que a socidade passou a reagir contra esta postura lamentável do apresentador, com severos reflexos para a emissora contrante. E esse é o papel de cidadão, o de se mobilizar para buscar reparar injustiças sob todos os aspectos, dentro do espaço democrático. E que sirva de exemplo para quem achava que não haveria mais limites no Brasil a partir do “novo normal do politicamente incorreto”. 

O país não pode se entregar ao escárnio dos que querem tornar a política um instrumento a serviço de um grupo qualquer, onde os cidadãos são julgados e selicionados por meio de julgamentos religiosos extremistas ou pelo caráter de quem se acha acima de tudo e todos, se colocando como os únicos “cidadãos de bem” por sua posição religiosa e política, além de suas opções e orientações pessoais. O Brasil não é uma plutocracia nem uma casta religiosa. *Colunista