Existe um plano em execução e o momento é crucial para o povo brasileiro
Jessé Souza*
O que está ocorrendo no Brasil não se trata de um governo incompetente que age desastrosamente nos principais setores, falhando gravemente na vacinação em massa. Absolutamente não. Todos esses movimentos estão sendo estrategicamente pensados visando inviabilizar a democracia sem precisar colocar os tanques dos militares na rua.
A pandemia veio bem a calhar. O retardo na vacina faz parte do projeto, pois quem mais sofre em momentos como este é o mais pobre, que ficou sem condições de trabalhar e, pior, ficando cada vez mais distante do mercado de trabalho, que passou a atuar em home office, por meio da internet que ainda está longe do poder aquisitivo dos assalariados.
Os benefícios sociais, de outra forma, deixam de ser pensados apenas como uma auxílio emergencial para socorrer essa leva de cidadãos empobrecidos ainda mais em tempos de pandemia. E passa a ser visto como uma generosidade do governo, com grande apelo eleitoral já visto em outros governos populistas.
Quanto mais retardar a vacina, mais tempo para submeter as pessoas a esta nova realidade, prolongando a ação da pandemia e adiando a imunização em massa, única saída para a volta à normalidade e para a retomada da economia, com as pessoas reavendo seus empregos e colocações no mercado de trabalho.
O negacionismo e as fake news se encarregam de suprir os questionamentos que surgem sobre o negacionismo, especialmente o da vacina, e incutir na cabeça das pessoas que se vacinar é um risco muito maior do que morrer por efeitos colaterais ou se tornarem jacaré, mas principalmente de ir para o inferno.
É aqui onde entra a religião, que é outro esteio dessa nova forma de se fazer política, em que os crentes nem se deram conta de que sua principal batalha agora não é mais pregar na esquina ou bater na porta das casas querendo fazer as pessoas a aceitarem Jesus. O desafio passou a ser fazer aceitar um mito, um governo que mistura política, religião, pátria, moral e bons costumes.
O plano de desigualdade social avança em outras camadas sociais. Enquanto já precarizaram o trabalho na iniciativa privada, com ajuda da pandemia, pondo as pessoas dentro de casa e longe do mercado de trabalho, além da Reforma da Previdência, agora estão partindo para precarizar o trabalho no serviço público, tentando aprovar a Reforma Administrativa, que tramita na Câmara, com o fim do concurso público, da estabilidade e de direitos conquistados ao longo dos anos.
Também estão tentando sufocar os pequenos trabalhadores do campo, por meio de meididas contra o meio ambiente que favorecem o agronegócio e as grandes corporações, que não precisarão mais se preocupar com licença ambiental, muito menos em ouvir comunidades atingindas por esses empreendimentos, como pequenas comunidades rurais, agricultores familiares, quilombadas e indígenas.
Os povos indígenas estão dentro deste plano, com seguidos ataques a seus direitos, tendo o pai de todas as maldades o Projeto de Lei 490, que está na Câmara, que impede novas demarcações de terras indígenas, abre as áreas para garimpo e grandes empreendimentos, impõe um marco temporal que enterra revisões e ampliações, além de permitir que povos indígenas sejam retirados de suas terras.
Com a pobreza aumentando, direitos sendo atacados, desemprego e inflação nas alturas, a tática é sufocar os protestos e as vozes dos dissidentes, impondo ataques constantes à imprensa que desagrada e concentrando grande soma de anúncios e publicidades nos veículos de comunicação que apoiam o governo. E investindo pesado nas redes sociais por meio de verdadeiras redes de mentiras e intrigas, manipulando as pessoas dentro de suas bolhas virtuais.
A manipulação da imprensa e grandes recursos destinados a corporações que apoiam o governo, somado à pobreza presa à religião, dependente benefícios sociais e levada a acreditar em mito como única salvação, naturalmente vão minando a democracia, pois qualquer tentativa de combater o avanço dessa forma de governar é colocada como antipatriotismo, pecado mortal digno do inferno ou até mesmo comunismo, que é palavra do momento para aterrorizar mentes fracas e desinformados.
Se todo o plano dará certo, difícil de se responder, pois as seguidas denúncias de corrupção na saúde pública, levadas à tona pela CPI da Covid, inclusive envolvendo militares, vêm minando os planos do governo . Mas que existe um bomba armada, disso ninguém pode duvidar.
O povo precisa estar bem atento, uma vez que até aqui ele foi a única vítima com a retirada de direitos e das mortes pela pandemia. Os militares já se encresparam. O momento é crucial e exige muita atenção por parte dos atores sociais.
*Colunista