Jessé Souza

JESSE SOUZA 12363

A realidade da pobreza em Roraima ganha contornos mais desesperadores

Jessé Souza*

Em um supermercado no bairro São Francisco, em Boa Vista, um rapaz venezuelano pediu R$3,00 de carne moída. O açougueiro, não se sabe se intencionalmente ou não, colocou uns gramas a mais. O imigrante, visivelmente constrangido, não reclamou e saiu de cabeça baixa.

Não deu outra: ao ir pagar no caixa, por alguns centavos, o imigrante teve que voltar para pedir que o açougueiro retirasse os gramas a mais porque ele só tinha o suficiente para levar R$3,00 de carne. Um homem que viu a cena compadeceu-se, mandou colocar mais R$10,00 de carne e deu o dinheiro para o imigrante.

Cena como esta tem se tornado cada vez mais frequente, inclusive os supermercados passaram a vender feijão e arroz quebrados (antes chamados de xérem) para que a população brasileira de baixa renda possa ter condições de levar o alimento para casa.

No local onde se descartam o lixo na Feira do Produtor outra realidade deprimente: adultos e crianças disputam frutas jogadas pelos feirantes para aproveitar aquelas que podem ser consumidas na hora, inclusive aquelas em que é possível tirar a parte deteriorada.

Nos classificados, também aumentou o número de venda de fogareiros feitos de lata e barro, já que a botija de gás está em um preço acima das condições do assalariado comprar. Assim também como passou a ser frequente trabalhadores oferecerem seus materias de serviço (a exemplo de auxiliares de pedreiros) e até brinquedos de seus filhos.

Aliás, acompanhar os classificados na internet tornou-se um exercício de compadecimento para com aqueles mais pobres, especialmente os imigrantes que colocam tudo para vender para conseguir algum dinheiro: geladeira, fogão, colchão, móveis e tudo aquilo que possa atrair um comprador.

Essa é a realidade atual que pode ser vista em Boa Vista, com as pessoas tentando conseguir dinheiro para colocar comida na mesa da família ou mesmo conseguir pagar o aluguel. Com a chegada diária de mais imigrantes venezuelanos pela fronteira Norte, a tendência é essa triste realidade piorar.

Como os políticos já entraram em campanha eleitoral antecipada, começou o jogo de acusações sobre quem é o culpado por engrossar esse quadro de desespero de venezuelanos dormindo nas calçadas, estes mesmos que disputam restos de alimentos nas feiras e que não conseguem dinheiro para comprar comida para a família.

Se as autoridades, especialmente as do Governo Federal, não estiverem atentas para o que está ocorrendo no Estado de Roraima, teremos em curto espaço de tempo uma situação insustentável nas ruas de Boa Vista. E tudo isso sob o olha complascente das autoridades locais e dos políticos de uma forma geral, os quais continuam inertes achando que o problema é somente com Brasília.

A violência é um dos primeiros reflexos do aumento da pobreza. E isso já está sendo visto com frequência há um certo tempo, inclusive na área central de Boa Vista. Disputa de venezuelanos desesperados na fila por documentos e vaga em abrigo pode ser vista nas longas filas em frente dos locais mantidos por organizações que dão apoio aos refugiados.

Se as autoridades locais acharem que esse é um problema somente das Ongs e do Governo Federal, não tardará para outras situações piores e incontroláveis, inclusive o aumento da violência urbana, passarem a ocorrer na Capital. Ou todos se unem agora em busca de soluções, ou todos iremos pagar um preço muito caro muito em breve.

*Colunista