O recado foi dado, agora é discutir como colocar comida no prato do brasileiro
Jessé Souza*
Embora a Câmara tenha enterrado a proposta do voto impresso auditável, na noite desta terça-feira, em um dia para ser esquecido pelas Forças Armadas pelo desatroso desfile de tanques fumacentos em Brasília, a votação mostra que o presidente Bolsonaro (sem partido) ainda tem votos de folga para impedir um impeachment, por exemplo.
Mas o principal fato a ser assinalado é que os deputados deram o recado de que nem todo o barulho que possa partir de um presidente com claras tendências déspotas terá a reverberação necessária de apoio irrestrito de todo o Congresso. As fanfarrices têm limite no momento crítico em que o país vive.
Agora, terá que ser menos barulho no cercadinho dos apoiadores, menos passeio de moto pelo país e mais trabalho para realmente encarar os problemas reais dos brasileiros, que está acossado pelo desemprego e vendo a fome bater a sua porta. Estamos falando de um povo que está atrás de ossada em açougue e pesquisando preço de arroz e feijão quebrados.
É preciso que o Brasil dê fortes sinais de que uma ruptura estará cada mais distante, pois os investidores já mostraram que estão inseguros em investir num país de um futuro incerto, ora pregando temor de comunista, ora lançando dúvidas sobre o sistema eleitoral, ora com sobressaltos de escândalos ao redor do Palácio, como é o caso do esquema da vacina.
Até hoje, o Brasil ainda não viveu um momento de trégua, não só por causa da pandemia, mas por problemas reais, a exemplo de um então ministro do Meio Ambiente flagrado em conluio com esquema madeireiro; ou por problemas fabricados em favor de um projeto antidemocrático ou mesmo para desviar a atenção para pautas que destroem direitos do povo conquistados há muito custo.
Temos um exemplo bem cristalino que veio dos Estados Unidos de Donaldo Trump, um presidente que investiu pesado para despertar a ira dos mais extremistas e gerar um clima generalizado de desconfiança nas instituições. o que resultou na invasão do Capitólio, com graves resquícios até hoje para a democracia naquele país, em um episódio em que Trump pregava fraude nas eleições em cédulas de papel.
Como Brasil não é os EUA, o que era para ser uma demonstração de força e poderio militar não passou de uma patuscada com tanques fumacentos, o suficiente para acalmar os ânimos do povo, mas não o suficiente para impedir que boa parte da Câmara sentisse a importância do momento para enterrar de vez esse pensamento fixo de “voto impresso”.
Agora, o brasileiro clama por uma nova postura de um governo que até aqui fez muito barulho, mas sem atacar os verdadeiros problemas que aflingem a nação brasileira. O que os pobres mais querem é saber como colocar comida no prato e como sair dessa crise sem precedentes na História recente.
Que a fumaça dos tanques seja o sinal para o surgimento de um Brasil consciente de seus problemas urgentes.
*Colunista