Jessé Souza

JESSE SOUZA 12432

Na era da desinformação, a maquiagem da verdade está se normatizando

Jessé Souza*

Fake news é um termo relativamente novo, popularizado durante a campanha eleitoral do então presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, em 2016. Porém, a mentira nas redes sociais e até mesmo na imprensa tradiconal não é nada novo.

Antes da popularização da internet, as mentiras vinham com uma roupagem bonita, chamada de sofisma, que é um argumento falso travestido de verdade. A mudança é que hoje as notícias falsas não têm mais apenas a aparência de uma roupagem sofisticada. Elas são produzidas como se fosse a própria verdade.

A desinformação tornou-se a principal arma usada especialmente como uma estratégia política, assim como fez Donald Trump até no fim de seu governo, na tentativa de se manter no poder mesmo perdendo as eleições. E todos sabemos no que isso deu, culminando com a invasão ao Capitólio, o maior símbolo da democracia norte-americana.

Como instalou-se a “era da desinformação”, como uma ramificação do pós-verdade, sites de notícias sobre amenidades decidiram adotar a linha de editorial baseada nesta nova realidade, desta vez adotando o sofisma como uma prática aberta, com informações capciosas que visam tão somente fisgar o leitor em troca de acessos.

É um momento delicado quando a sociedade já está em risco com fake news. Uma linha editorial que atua para ludibriar a opinião pública como forma de conquistar acessos acaba por querer tratar como normal a mentira como estratégia, a ludibriação como uma técnica aceita por todos. É normatização da maquiagem da verdade.

Aceitar a mentira como normal na política e na mídia é um grande risco para a sociedade baseada na democracia, uma vez que o mundo já teve uma experiência de uma estratégia de comunicação que ajudou a criar o cenário de holocausto na Alemanha nazista, técnicas estas estudadas até hoje na Comunicação.

É necessário que o cidadão não se deixe levar pelas perigosas estratégias de sites de amenidades e fofocas, os quais estão a serviço do grande mal do século, que é a desinformação como normatização da mentira, com obvia estratégia de conseguir cliques em suas divulgações. Muito menos que se deixe alienar pelas fake news que estão a serviço de uma estratégia política bem elaborada e que tem uma finalidade nem tão obscura assim.

Da mesma forma que emissoras de rádio e televisão estão normatizando a desinformação e ataques abertos a minorias como “defesa da moralidade”, invocando inclusive uma suposta liberdade de expressão, também surgiram veículos de comunicação que vetam abertamente que âncaras e qualquer jornalista façam críticas a políticos, especialmente aqueles aliados de seus patrões.

Há uma perigosa movimentação nas redes sociais e nos veículos de comunicação a serviço da desinformação, a qual se alia muito bem à disseminação de fake news como uma estratégia política. Nunca a verdade como instrumento de uma sociedade democrática esteve tão em risco quanto agora.

Uma clara fronteira está sendo rompida, em que muitos estão achando que liberdade de expressão é também a liberdade de agressão. Este momento é crucial, pois quando uma tirania se instala em qualquer lugar do mundo, a primeira vítima dos tiranos é a verdade; e a máxima que passa valer é aquela em que uma mentira contada repetidas vezes acaba se tornando verdade.

*Colunista